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Artista constrói casa com mais de '1 bilhão de euros'

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Para expressar a sua revolta com a especulação imobiliária, um dos fatores por trás da crise econômica, um artista irlandês criou uma casa com mais de um bilhão de euros em notas que saíram de circulação.

Veja mais fotos da casa feita de dinheiro

O dinheiro, transformado em um sólido tijolo de notas retalhadas, é material não para uma simples instalação, mas para a casa onde o artista dublinense Frank Buckley reside durante a semana.

A casa foi construída na Glass House, um edifício de escritórios vazio que se converteu em uma relíquia do estouro da bolha imobiliária irlandesa. No lobby, uma senhora entrega um maço de notas a uma menina de 15 anos.

Crédito: Cathal McNaughton - 24.jan.12/Reuters Frank Buckley dentro de sua casa feita de tijolos de dinheiro
Frank Buckley dentro de sua casa feita de tijolos de dinheiro

"Vá e compre umas balas e doces para você", diz a senhora, enquanto entrega à jovem um bloco de 50 mil euros.

"Eu devia ter trazido a minha bolsa para cá - faria uma fortuna."

Buckley convida espectadores para dentro de sua casa na esperança de suscitar um debate sobre a dívida irlandesa e sobre o significado da moeda.

Como tantos outros de seus amigos e conhecidos, Buckley foi vítima da crise. No auge da bolha especulativa, com a ajuda de crédito barato, o artista comprou uma casa.

Queria se mudar para a nova residência com seus dois filhos e a esposa, que havia acabado de se mudar do Zimbábue com outros quatro filhos seus.

"Pedi muito dinheiro emprestado, o que foi incentivado. Assumo a responsabilidade, mas foi muito fácil tomar o empréstimo", conta.

"Estávamos no meio dessa bolha, a confiança estava alta, éramos intocáveis e no espaço de duas ou três semanas veio a conta."

Ladeira abaixo

Buckley não tem renda fixa e em poucos meses passou a dever suas parcelas da hipoteca.

Sob pressão do ponto de vista financeiro, viu o casamento desmoronar e mudou sozinho para um minúsculo galpão no fundo do quintal, de onde viu os oficiais de Justiça se apossarem de seus móveis.

Ao mesmo tempo, o artista via seus amigos passarem igualmente por dificuldades financeiras. Um de seus melhores amigos, que trabalhava no setor de construção e perdeu tudo, se suicidou.

Certo dia, absorto enquanto olhava para um bloco de notas de euro fora de circulação que havia comprado de um amigo para usar como confete no seu casamento, Buckley começou a questionar o valor real do dinheiro.

"Pensei, meu Deus, o que é que esse papel está fazendo com a gente?"

O artista diz que queria jogar luz sobre o absurdo da crise econômica na Irlanda, por isso fez pinturas das notas rasgadas e moedas, que foram exibidas no fim do ano passado.

Em seguida veio a ideia de construir uma casa.

Buckley ligou para um agente da área de construção que tinha visto uma resenha de seus trabalhos. Ele concordou em encaminhar a proposta ao proprietário do edifício, que concordou.

Em seguida, o artista conseguiu convencer a Casa da Moeda a lhe emprestar os tijolos de notas fora de circulação, que serão devolvidas e destruídas ao fim da exposição.

Moradia

Originalmente construída como galeria, a casa é hoje completamente funcional. Tem sala de estar, quarto e banheiro, com uma ducha que lançará notas de dinheiro.

Por fora, a casa é de tijolo amontoado e madeira doada por uma loja de material de construção da região.

As notas de euro são usadas como reboco para as paredes internas e o chão. Buckley diz que elas se revelaram um bom isolante térmico, de forma que a casa precisa de pouco aquecimento.

A casa tem móveis e, no futuro, deve receber microondas, fogão, máquina de lavar pratos e outros eletrodomésticos. Tudo para o conforto de Buckley, que mora no local durante a semana, retornando para seu pequeno galpão no quintal da família no fim de semana.

Desde que foi aberta ao público, na segunda-feira, a casa já recebeu mais de 300 visitantes. Mas apesar do sucesso, Buckley diz que uma instalação sobre a crise econômica irlandesa tem um lado triste.

Ele lembra a reação de uma jovem visitante diante de um bloco de notas fora de circulação. "Se eu pudesse usar esse dinheiro, sairia do país", ela disse. E para Buckley, "isso é muito triste".

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