Deus só deveria se meter na vida privada das pessoas se oferecesse alguma coisa em troca. Tipo assim: ele determina com quem você pode ir para cama, mas só depois de depositar dois milhões na sua conta.

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Mas Deus não manda docs, pois tem mais o que fazer: galáxias para criar, estrelas para estourar e cometas para desviar. Convenhamos, é melhor deixá-lo fora de assuntos mundanos que nós mesmos, pobres mortais, podemos resolver com leis sensatas. É por isso que eu sou favorável à legalização do aborto e ao casamento gay (ou união homoafetiva, como querem os politicamente corretos).

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Pela mesma razão, acho bacana a tal lei anti-homofobia. Afinal, é a impunidade que alimenta a violência. E, convenhamos, já passou da hora de transformarmos esta terra habitada em uma nação civilizada. Chega de viver num samba enredo, gente. Vamos construir um país, "cazzo"!

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Mas tem um troço. Gostaria de garantir o meu direito de chamar quem eu quiser de "viado". Veja bem: "viado" e não "veado", pois como ensinou o Millôr, o segundo é o bicho.

Faz muito tempo que "viado" deixou de significar o que originalmente significava. É igual "coitado" que antes designava uma vítima de "coito" e hoje é só um... bem, um pobre coitado. Quando o sinal abre, o carro da frente não anda e eu grito "Anda, viado!", não estou emitindo um juízo de valor sobre a vida sexual do motorista. No que me diz respeito, ele pode até praticar a abstinência que continuará sendo "viado" do mesmo jeito. O mesmo vale para juiz de futebol cegueta, motoboy fominha e cantor sertanejo. Tudo viado.

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"Viado" virou sinônimo de "pessoa irritante, folgada e sem noção". E é por isso que existem inúmeros heterossexuais que são viados e muitos homossexuais que não são. Vale lembrar ainda que, entre amigos (heteros ou homos), a palavra também pode ser usada como forma de cumprimento. Exemplo: "Por onde você andou, seu viado?! Faz meses que não te vejo!"

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Também é comum que o termo seja utilizado como forma suave de admoestação. Exemplo: "Pô, você não falou que ia no churrasco lá em casa, seu viado?!"

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Portanto, aproveito o espaço apertadinho e gostoso desse Factoides para introduzir uma campanha nacional pelo uso indiscriminado da palavra "viado". Pois como todos nós sabemos, a patrulha começa justamente pela linguagem e, quando você menos espera, os politicamente corretos de hoje viraram os fascistoides de amanhã.

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Então vamos lá: todo mundo contra a homofobia, mas sem patrulhar a linguagem, que isso é coisa de bicha. (Por falar nisso, também quero o direito de chamar quem eu quiser de "bicha".)