Factoides

HUMOR: Carimbo de aviso: contém coisa feia

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Aquela história de "facilitar" Machado e outros clássicos da literatura do Bananão, sobre a qual escrevi aqui, deu pano para manga —li gente boa defendendo esse tipo de adaptação (discordo, mas respeito) ou criticando de modo original, como meu amigo e vizinho de coluna Edson Aran (o que ele diz sobre a "personagem principal" do Machado ser a linguagem faz muito sentido).

Mas sou daqueles caras que acreditam, como o Paulo Mendes Campos, que "antigamente as coisas eram piores; depois foram piorando". Eu disse que facilitar uma obra era como adulto falando tatibitate com criança —e aí vem o "New York Times" (reproduzido pela Ilustríssima ) e revela um novo CONCEITO em tatibitate, produzido por marmanjos com idade mental de pimpolhos.

A ideia é que livros clássicos venham com AVISOS sobre o conteúdo impróprio que a alminha pura do leitor vai encontrar quando abrir as páginas. Não estou brincando. Se entendi bem, é um esquema semelhante àquelas etiquetas "aviso aos pais: conteúdo explícito" nos CDs, que os EUA adotaram nos anos 80 (e que Iggy Pop zoou lindamente com um "aviso aos pais: este é um disco de Iggy Pop"). Para assegurar que a papinha mental dos nenês não contém coisa feia –e como se hoje ninguém pudesse se informar previamente sobre conteúdo na internet.

Crédito: The Grosby Group Iggy Pop, "pai do punk" e atual técnico do Palmeiras (vocês não sabem como foi difícil achar foto do cara com camisa)
Iggy Pop, "pai do punk" e atual técnico do Palmeiras (vocês não sabem como foi difícil achar foto do cara com camisa)

A humanidade parece se encaminhar para virar aquela tia bilheteira que carimba AVISADO no ingresso para o filme "Praia do Futuro" ("ó lá, hein? Tem sexo gay, 'hómi com hómi', cobra com cobra. Tá avisado"). E, já que o negócio é carimbar AVISADO em tudo e eu jamais quero ser acusado de deter a marcha do progresso, proponho aqui uma série de avisos a serem afixados em livros capazes de ferir suscetibilidades –ou seja, todos, exceto talvez "Pluminha Procura Amigos".

BÍBLIA: Cenas de assassinato (Caim e Abel), incesto (as filhas de Ló), homossexualismo (Sodoma e Gomorra), escravidão (José e seus irmãos) e onanismo (com Onan, o próprio) –e isso é só no primeiro livro! Mais violência sanguinária (praticamente todo o Velho Testamento), tortura (na cruz) e vários "fatos sem comprovação científica" (essa etiqueta será a cereja no bolo da chatice).

MITOLOGIA GREGA: Muita violência e sacanagem: pai que engole os filhos, filho que mata o pai e transa com a mãe, Zeus —que era tipo um Zé Mayer do Olimpo— pegando todo mundo etc. (rola um bocado de bestialismo, inclusive). Fuja.

HISTÓRIA DA ROMA ANTIGA: Nossinhora. Só uma cambada de depravados —Nero, Calígula, Heliogábalo, sujeitos que você jamais convidaria para um cafezinho em casa. Fuja correndo.

SHAKESPEARE: Machismo ("A Megera Domada"), racismo e assassinato por motivo fútil ("Otelo"), antissemitismo ("O Mercador de Veneza"), suicídio de menor de idade ("Romeu e Julieta"), maus-tratos a idosos ("Rei Lear"), longos monólogos, violência sanguinária, bebedeiras, sacanagem.

BRANCA DE NEVE: Canibalismo (Rainha Má come pulmões e fígado de um javali achando que são da Branca de Neve). Necrofilia (príncipe se apaixona por mulher supostamente morta).

CHAPEUZINHO VERMELHO: Violência sanguinária. Maus-tratos a idosos (o lobo come a avó). Maus-tratos a animais (o caçador abre a barriga do lobo). Travestismo.

CINDERELA: Escravidão. Falta de consciência social (Cinderela se dá bem com ajuda da Fada Madrinha, em vez de fundar um Sindicato das Cinderelas e lutar pelo bem coletivo). Podolatria.

ANTOLOGIA DE PIADAS DO COSTINHA: Noooffa!

RUY GOIABA é impróprio para o consumo, mas não contém glúten nem gorduras trans.

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