Sempre achei que, se por acaso o Brasil deixasse um dia de produzir futebol, samba e jabuticaba, restaria um tesouro nacional: a gloriosa criatividade do brasileiro para batizar seus pimpolhos –que também se traduz por desconsideração total dos pais pelo bullying que os filhos vão sofrer por causa de seus nomes EXÓTICOS.

No Bananão, isso não é típico apenas de casais diferentões como Pepeu Gomes e Baby Consuelo –toda vez que citam a Sarah Sheeva, filha deles que foi batizada como Riroca, penso que eu seria bem doidão se meus pais tivessem me dado um nome como Raralho. Também não é simples "adaptação" de nome gringo, como Máicon: hoje, só no futebol deve haver uns 200, prováveis frutos do sucesso de Michael Jackson nos anos 80.

Não, é um costume disseminado e resulta em nomes ALUCINANTES, como os registrados pelo correspondente do "New York Times" no Brasil, Simon Romero, neste texto em inglês. Temos, por exemplo, o universitário Wonarllevyston Garlan Marllon Branddon Bruno Paullynelly Mell Oliveira Pereira, que conseguiu na Justiça uma versão "encurtador de URL" do seu nome e passou a se assinar Bruno Wonarleviston Oliveira Pereira. Temos também Charlingtonglaevionbeecheknavare dos Anjos Mendonça, encanador (meu tio do pavê interior diria que ele entrou pelo cano logo depois de nascer), que curiosamente prefere ser chamado apenas de Chachá.

E temos um garoto de 12 anos que joga nas divisões de base do Corinthians e atende por Petroswickonicovick Wandeckerkof da Silva Santos. Como se não bastasse os jogadores brasileiros estarem deixando de se chamar Pelé, Didi e Vavá e adotando nomes de estudante de cinema na Faap, do tipo "João Schmidt". Imaginem Galvão Bueno ou Cléber Machado engasgando no meio do Petroswickonicovick. Imaginem um colega de time gritando "Petroswickonicovick, solta essa bola!" –quando terminasse de gritar o nome, o time adversário já teria roubado a bola e feito o gol mais meia hora de dancinha pras câmeras do "Fantástico".

Na verdade, o batismo-bullying é antigo no Brasil: alguns devem se lembrar do pobre Tospericargerja, vítima da Copa de 1970 (o nome era homenagem a metade do time tricampeão: Tostão, Pelé, Rivellino, Carlos Alberto, Gérson e Jairzinho). Mas, parafraseando o Paulo Mendes Campos, antigamente era pior e depois foi piorando. E não é possível que essas coisas não contem, no mínimo, como atenuante em casos de parricídio.

Mas, enfim, descobri recentemente que a criatividade (mal) canalizada para os nomes dos filhos está longe de ser exclusividade brasileira. A agência Reuters nos informa que o Estado mexicano de Sonora proibiu os pais ali residentes de batizarem seus filhos com nomes como "Escroto", "Exterminador", "Facebook" e "Usnavy" (Marinha dos EUA, em inglês).

Portanto, sempre que você estiver se sentindo otimista e cheio de fé na humanidade, pense que vivemos num mundo em que É NECESSÁRIA UMA LEI para que pais não deem o nome de Escroto a seus filhos –mas, por outro lado (e pra não cortar os pulsos), pense que, se o Tospericargerja sobreviveu, você também pode.

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RUY GOIABA não se chama Ruy, mas não tem queixas do nome verdadeiro. Escolheu "Ruy" basicamente pra poder se incluir na formação do Menudo por volta de 1985 (Charlie, Ricky, Robby, Ray, Roy e Ruy).