HUMOR: Autoescola de homem-bomba
É jogo duro bater o Grande Roteirista do Mundo quando você tenta ser engraçado com data marcada, uma vez por semana (e falha sempre, como vocês, meus dois leitores, sabem). Acho que era uma personagem de filme do Truffaut, talvez interpretada pela Fanny Ardant, que dizia que "a vida tem mais imaginação que a gente". Parece clichê, mas é 100% verdade -basta dar um passeio pelas seções de "notícias bizarras" para constatar.
Ontem mesmo, o "Daily Mail" britânico, do qual a prudência manda desconfiar, noticiou que uma juíza da Bósnia foi destituída porque resolveu dar novo significado à ideia de TRANSPARÊNCIA da Justiça e tomar banho de sol pelada numa sala do tribunal. A princípio, achei bacana, mas depois pensei que é melhor haver algumas diferenças entre o Judiciário e uma peça do Zé Celso -e, sobretudo, não dar nenhuma chance para que o nosso tio-do-pavê-interior faça piadinhas com "vara", "sustentação oral" e "ônus da prova". (Ops, escapou.)
Aí você resolve dar uma passeadinha pelo noticiário esportivo e, como notou o caríssimo vizinho Diego Rebouças, encontra estas mimosas privadas lado a lado, sem divisória, no Parque Olímpico de Sochi, onde está sendo disputada a Olimpíada de Inverno. Claro: o que poderia ser melhor que SOCIALIZAR com o amigo da privada vizinha enquanto sua alma se esvai pelas tripas depois de você ter batido aquela feijoada molotov? Consigo até imaginar a Patrícia (Patricya? Patrycia?) Travassos sentadinha do lado perguntando "como vai o intestino?", para quebrar o gelo. Podiam fazer logo como naquele filme do Buñuel (ui, como estou cinéfilo hoje), com todos usando as privadas em volta de uma mesa (e comendo escondidos no banheiro).
Mas a melhor história do início da semana, ou talvez a melhor pior história, é a da autoescola de homens-bomba no Iraque. O terrorista-instrutor estava lá demonstrando o uso correto do cinto para os candidatos a executar atentados suicidas e, de repente —pra vocês verem como usar cinto pode ser perigoso—, BUM!: 22 mortos, 15 feridos e uma explosão de piadas de humor negro, que vão desde "a turma toda levou bomba" até a clássica "prestem atenção, que eu só vou fazer uma vez!".
Deu até vontade de reescrever um textinho que fiz pro meu finado blog, com o diário do homem-bomba português: ele reclamava de não poder se registrar nos hotéis com sua verdadeira profissão, fazia planos para depois da aposentadoria etc. Nunca vai superar a realidade, mas a gente insiste. Quanto aos homens-bomba iraquianos, por mim podiam encerrar já em fevereiro os Darwin Awards de 2014: já temos um vencedor.
RUY GOIABA que se sente deprimido com as tragédias do mundo, pensa no filósofo Cioran ("o riso é um maravilhoso achado que reduz as coisas às suas justas proporções"). Às vezes é difícil, mas o humor é teimoso, como a vida.
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