Factoides

HUMOR: "A Serviço de Sua Presidenta", uma aventura de Jaime Borba, agente da ABIN

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Era um dia ensolarado e seco em Brasília. Uma temperatura extremamente agradável. Se ele fosse um calango. Só que não era. Era um homem e usava terno escuro. Suando, ele se aproximou da escultura "Os Candangos", em frente ao Palácio do Planalto, e apertou discretamente um botão na bunda do candango da esquerda. A escultura deslizou rangendo e revelou uma escada subterrânea. Ele desceu.

Aquela era a sede secreta da A.B.I.N. (Agência Brasileira de Ispionagem Nacional). E o nome do homem era Borba. Jaime Borba. Agente secreto 007.0001.313.415-C com Licença para Matar Desde Que Devidamente Carimbada e Assinada em Três Vias pelo Superior Imediato. No fim da escada havia uma catraca eletrônica e uma mulher mal humorada atrás de uma mesa.

"Boa tarde, senhorita Mamapennes!", o homem disse. A mulher não respondeu. Tinha estabilidade no emprego e não precisava ser simpática. Jaime Borba passou o crachá para liberar a catraca, mas a coisa não abriu.

"A porcaria deu pau de novo...", ele informou. A mulher bufou. Apertou uma tecla lá na mesa dela e a catraca se moveu.

"Vai logo que o 'M' quer falar com você", gritou Mamapennes.

"M" era Machado, diretor superintendente da A.B.I.N. (Associação Bananão de Inteligência Neutralizadora). Machado era da cota do PMDB. Ele esperava Jaime Borba atrás de uma mesa limpa e escura.

"Jaime, vamos logo com isso que hoje é quinta-feira e eu preciso voar para minha base eleitoral", ele disse, indicando uma cadeira para o agente. Então perguntou:

"Você sabe o que é N.S.A.?"

"Hmm... Nossa Senhora Aparecida?", respondeu o espião, de pronto.

"Não, energúmeno! National Security Agency. A CIA do Obama! Temos informação de que eles "hackearam" o Facebook da presidenta e publicaram posts no nome dela dizendo que o Eduardo Campos é um gato."

"Eu cuidarei disso, senhor", respondeu Jaime Borba.

"Não podemos perder tempo, 007.0001.313.415-C!"

Crédito: Edson Aran

Jaime Borba fez um requerimento e levou imediatamente ao setor de contraespionagem. Pediu para o diretor carimbar e seguiu até o guichê de equipamentos. Então retirou a senha para requisitar um agendamento de reunião. Aí esperou chamarem seu número e marcou uma conversa com "Q". Como era quinta, ficou para terça.

"Q" era o Queiroz. Supervisor de equipamentos. Era da cota do PTB. Na sexta, "Q" entregou a Jaime Borba uma pistola Walter PPK com seis balas (exigência do Banco Central para controlar o preço da munição) e um Aston Martin equipado com assento ejetor, anteriormente usado pelo presidente Lula e José Dirceu, o presidente Lula e Antônio Palocci, o presidente Lula e Delúbio Soares, o presidente Lula e José Genoíno.

Jaime Borba não tinha muito tempo. Então ele ligou para Cariño Cachufleta, uma "peguete" sua que trabalhava para a E.G.O. (Espionagem Global Argentina). Depois de ironizar o serviço secreto e o futebol brasileiro, a moça deu a dica: o escritório da N.S.A. em Brasília ficava nos fundos de um McDonald's na avenida W1 Norte L5 Barra 2 N 4 Sul.

O agente foi até lá, entrou no drive-thru, pediu um Quarteirão e então viu o tal lugar, nos fundos. Era aparentemente uma casinha normal. Mas havia um pequeno detalhe incriminador que não escapara aos olhos de águia do espião: a placa onde se lia "Escritório da N.S.A. Bata antes de entrar."

Jaime Borba meteu o pé na porta. Vinte agentes da N.S.A. estavam atrás de vinte computadores espiando as comunicações de 200 milhões de pessoas. Assim que viram o agente da A.B.I.N., eles se afastaram dos teclados e começaram a assoviar, olhando pro teto.

"Meu nome é Borba, Jaime Borba! E esse ninho de espionagem, delinquência e subversão está acabado!", gritou o espião brasileiro, apontando a Walter P.P.K.

Um dos homens da N.S.A. abriu um largo sorriso e se aproximou de braços abertos. Ele era careca, barrigudo, tinha bigodes e falava português sem sotaque nenhum.

"Graaaande Jaime Borba! Escuta, nós precisamos conversar uma coisinha aqui."

O homem colocou a mão no ombro do agente e o afastou dali, falando em tom baixo ao seu ouvido:

"Escuta, meu querido, tudo isso aqui está nos conformes, tá sabendo? Tudo acertado lá na alta cúpula. Fica 'sussa'. Não entra nisso não que é você quem vai se dar mal! Vai por mim: não mete a mão em caixa de marimbondo!"

Jaime Borba pensou um pouco. E mais um pouco. Então guardou a arma no bolso, se despediu dos caras e deixou o local. Mais uma missão cumprida a serviço de Sua Majestade, a presidenta.

Quando ele saía do drive-thru, passava uma moça de minissaia rodando bolsinha. Ele acertou o preço e falou para ela entrar no carro.

O Aston Martin se afastou, a música explodiu. Tan-ran-ran, ran-ran-ran-ran. Então os créditos subiram. A inflação também, por falar nisso.


EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.

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