Factoides

HUMOR: O ABC do Brasil parou no B

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O Brasil, também conhecido como Bananão (saudades, Ivan Lessa), não consegue mais sair da letra B. Percebi isso rememorando os principais assuntos da imprensa nas últimas semanas --biografias, beagles, Black Blocs-- e a torrente de bobagens escritas sobre todos eles, para a qual colaboro com algumas gotinhas toda semana: afinal, basta nascer no Brasil pra participar compulsoriamente do Festival de Besteiras que Assola o País (saudades, Sérgio Porto).

Não sei se o Zé Simão já atualizou o que ele chamava de "trio elétrico do brasileiro" (real, bola e bunda) trocando o real, que anda escasso no bolso de todo mundo, pela besteira, que sempre abunda. Mas fico tentado a ver nessa profusão de letras B --aliás, o "BBB" deve voltar em breve-- mais que uma simples coincidência alfabética com a inicial do Brasil-de-meu-Deus.

Pode ser que, apesar de aparentemente alfabetizados, a gente não consiga ler além da letra B, e aquele papo do Michael Jackson ("ABC, simples como 1-2-3") seja coisa de americano. Os brasileiros seríamos todos, portanto, como aquelas tribos que contam "um", "dois", "três" e "muitos", incluindo presidente e ministro da Fazenda (aliás, jornalistas são exatamente assim; quem sabe contar um pouquinho mais acaba virando editor de caderno de economia).

Pode ser também que o país esteja estacionado no B porque a letra seguinte --C de crescimento, com cascata de camarão e champanhe-- não se concretizou: era tudo blá-blá-blá. Pode ser ainda porque TODAS as discussões no "patropi abençoá por Dê e boni por naturê (mas que belê)", políticas ou de outro tipo, tendem a ser binárias, num chatíssimo pingue-pongue entre A e B.

Somando tudo, o Brasil é hoje um filme B de dimensões continentais --e eu curto ver filme B, não necessariamente viver dentro de um. Mas, já que a bufunfa está curta e os brasileirinhos não sobrevivemos sem bola e bunda ("as bundas que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá", diria hoje Gonçalves Dias em meio ao banzo do exílio), ficamos por aqui, sem plano B. Quem sabe um apocalipse zumbi --que começa em A e termina em Z-- anime um pouco as coisas.


Falando em filmes B, como não ficar consternado com a notícia de que a Globo planeja acabar com a "Sessão da Tarde"? Diz a reportagem de Keila Jimenez que a audiência do horário caiu muito nos últimos dez anos --segundo o texto, contribuíram para isso os canais de TV paga e o sucesso de serviços de vídeo sob demanda, como o Netflix.


Se a mudança acontecer de fato, nunca mais teremos turminhas do barulho aprontando altas confusões. Nunca mais Matthew Broderick matando aula e cantando "Twist and Shout" nem Eddie Murphy de príncipe africano disfarçado de funcionário de lanchonete tipo McDonald's (aliás, uma salva de palmas para a banda Chocolate Sensual).

Tudo isso formava caráter --ou pelo menos fez de mim um adolescente melhor, menos aborrecente; e é chato quando o mundo insiste em avisar que sua adolescência acabou. Um brinde e uma lágrima pelos "Goonies".


RUY GOIABA sempre sonhou levar a garota de rosa shocking pra curtir a vida adoidado na lagoa azul com a Brooke Shields. Mas trocaria de boa aquela cena da cerâmica em "Ghost" pela mesma cena em "Corra que a Polícia Vem Aí" (saudades, Leslie Nielsen).

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