HUMOR: Escolas de BH ganham varandas gourmet
As escolas municipais de Belo Horizonte vão receber auxílio psicológico. A medida foi anunciada depois que as instituições começaram a apresentar graves sinais de complexo de inferioridade com a inauguração, no último sábado 21, da primeira Unidade Municipal de Educação Infantil super master blaster construída pela Odebrecht Properties.
O novo centro de ensino é fruto da Parceria Público-Privada que o prefeito Márcio Lacerda assinou em julho de 2012 com a Odebrecht para que a empreiteira construa e administre 37 novas escolas municipais.
E sem precisar de crowdfunding! Sim, porque dos R$190 milhões das obras, R$96 milhões vão sair do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. A parte da Odebrecht vai ser financiada pelo BNDES. E os R$39 milhões dos custos anuais para administrar as escolas serão repassados diretamente pela Prefeitura à Odebrecht. Não é uma beleza isso de Parceria Público-Privada? Sem precisar de cuecas ou malotes, o dinheiro público vai direto para a privada. Eu digo: para a iniciativa privada.
Mas para que as quase duzentas escolas já existentes em Belo Horizonte não se sintam inferiores, a tendência é que o interior das unidades sejam rebatizados com eufemismos.
Com isso, sala de aula vira espaço fitness. Afinal, é ali que os alunos passam a maior parte do tempo tomando bomba. E nada de chamar o lugar onde se faz refeição de refeitório. Varanda gourmet é um nome muito mais chique-segundo-a-classe-média. E a boa e velha sala de professores renasce como sauna. Tudo a ver. Os professores reunidos ali, praticamente nus por falta de salários decentes, trocando ideias sobre melhores condições de trabalho enquanto são cozidos por anos a fio pelo entra-governo-sai-governo.
Apesar de toda ansiedade de terceirizar, hoje, a rede municipal da capital mineira só consegue atender 26,4% da demanda de educação para crianças de 4 e 5 anos de idade. Isso para ficar só em um segmento. Os dados são da pesquisa feita no início do ano pelo Dieese em parceria com Sind-UTE, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado.
Mesmo assim, a Prefeitura segue terceirizite. Cantineiros, faxineiros, porteiros, todo mundo é terceirizado nas escolas municipais. Marcio Lacerda está com um encosto de FHC?
A gente acredita. Ainda mais com essa novela das 18h, Joia Rara, falando de alma, reencarnação, essas coisas. Diferente do Ruy Goiaba, sou do time que não só vê novela como ainda acredita nos personagens e torce por eles.
Nesse enredo da Educação belo-horizontina, por exemplo, estou ansioso para ver se as umas trazem alguma reviravolta, porque a trama anda muito sem graça. Mas, para isso, é preciso que os eleitores não se confundam com espectadores.
DIEGO REBOUÇAS, 30, é roteirista e jornalista. Escreveu "Travessia", publicado pela Livros Ilimitados, e também revende Jequiti, Avon e Natura no Facebook
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