Factoides

HUMOR: "O Livro dos Seres Imaginados - Parte 2", mais algumas bestas dos dias de hoje

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A CORRUPÇÃO

A cosmogonia chinesa ensina que a Corrupção é uma criatura imortal. Muito perseguida, raramente se deixa capturar. É antiga e sua origem se confunde com o próprio tempo.

A forma física da Corrupção é variada. Relatos datados da dinastia Mi Xing a fazem gigante, dominando sozinha todo um país. Outros textos, no entanto, a descrevem multiplicada em milhões, infestando casas humildes e palácios suntuosos.

Tu Sifu, o mestre da estratégia, narra a história de um guerreiro que decide destruir a Corrupção. Dizem a ele que vá ao templo de Yumi Fu e procure pelo mestre, que tudo sabe sobre o monstro. O guerreiro coloca-se respeitosamente na frente do sábio e diz:

"Mestre, como faço para destruir a Corrupção?"

"Traga-me um milhão de yuans e eu o ensinarei", responde o mestre.

O discípulo leva um milhão ao mestre, que pega o dinheiro e nada diz. Uma semana se passa e nenhuma resposta. Então o discípulo o procura novamente:

"Mestre, eu lhe dei um milhão de yuans e ainda não sei como acabar com a terrível Corrupção!"

"Um milhão?!", espanta-se o mestre. "Nunca vi esse dinheiro. Você tem recibo ou nota promissória?"

Neste momento, o guerreiro compreende que foi derrotado antes mesmo de ter lutado.

Crédito: Edson Aran

A CHICANA

Nos bestiários medievais, a palavra "Chicana" refere-se a uma espécie de criatura monstruosa que bloqueia os caminhos.

Ao avistar a passagem de uma caravana que leva prisioneiros para o julgamento, a Chicana se prostra no meio da estrada e dali não sai nem que a vaca tussa.

Plínio, o Confuso, descreve o monstro com um corpo de elefante e cérebro de minhoca. O historiador, entretanto, não conhecia o mamífero proboscídeo africano e quero crer que a palavra "elefante" significava apenas "criatura-volumosa-que-não-sai-da-frente-nem-por-um-cacete".

Um aspecto curioso deste monstro abominável é que ele se recusa a ser chamado pelo próprio nome. Quando alguém diz "Olha lá uma Chicana!", a Chicana fica furiosa e exige desculpas.

Conta-se que certa vez uma Chicana aboletou-se no meio de uma estrada e ali ficou durante 100 anos, só se levantando quando a Corrupção pediu para passar.

OS FALSOS REBELDES

Na página 203 do "Dicionário Hediondo das Criaturas Dúbias" (Irlanda, 1612), Plínio, o Contraditório, descreve assim os Falsos Rebeldes:

"São homenzinhos com cara de pau que habitam os pântanos da região irlandesa de Glendaloughahtwygh (palavra celta que significa "Acuda, Engasguei Com Um Osso de Galinha!").

Os Falsos Rebeldes se comunicam numa linguagem esquecida e barroca, que mais confunde que explicita. As expressões faciais gravadas na madeira também não ajudam a decifrar suas reais intenções.

Os Falsos Rebeldes atemorizam os reis, embora vivam nos porões dos castelos, onde recebem proteção, ajuda e alimento. Não suportam a luz e, quando expostos ao sol, dissolvem-se em frases feitas e promessas de autocrítica.

William Shakespeare menciona um Falso Rebelde na sua peça "Hamlet". O príncipe da Dinamarca contrata um deles para fazer um show e expor a vilania do seu tio Cláudio, o usurpador. A criatura pega o dinheiro de Hamlet, arruma mais dois financiadores privados, descola uma verbinha numa estatal e se manda dali sem fazer a peça.

Hamlet enlouquece e comete suicídio assistindo a um show do Criolo.


EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Sua série de cartuns "O Totalmente Dispensável Almanaque Inútil do Aran" é publicada mensalmente no "Folhateen". Ele foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.

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