Mais pornografia, "MENAS" opinião
É grave a crise. Um amigo me chamou a atenção, e posterior pesquisa Dataguava, usando os mais modernos métodos de chutometria e amostragem por achismo (mal aí, Datafolha), confirmou a impressão: graças sobretudo às redes sociais, a quantidade de opinião emitida na internet já ultrapassou a de pornografia.
E opinião, vocês sabem, é que nem aquilo que os colunistas políticos adoram chamar de "círculo íntimo": você abre o Twitter ou o Facebook e eles estão cheios de Zé Celsos que FAZEM QUESTÃO de esfregar a, ahn, opinião na sua cara. Eu me sinto atado a uma cadeira desconfortável do Teatro Oficina, numa fila do gargarejo que pode ser literal demais para o meu gosto.
Vocês perguntarão: mas, cara, e a liberdade de expressão? Sim, claro, democracia é uma coisa linda, o pior regime exceto todos os outros --como dizia o Churchill, aquele do charuto. E no fundo isso é bonito no Twitter: ele desmente de uma vez por todas aquela ideia preconceituosa de que alguém precisa ter cérebro para emitir opinião. Em última análise, deixar de seguir ou bloquear resolve, e não cair na rede social é melhor ainda.
(Faço este parêntese para dizer que apenas os comentários em blogs conseguem ser mais fascinantes que as opiniões-de-Twitter. Já sugeri que a classificação dos seres vivos seja revista: plantae, animalia, fungi, protista, monera e comentaristas de blogs, nessa ordem. Claro que isso não inclui vocês, leitores desta coluna, que são todos lindos e cheirosos por definição. Fim do parêntese.)
O fato é que essa overdose opinativa é nada menos que trágica, senhoras e senhores. A internet já foi um lugar em que as pessoas podiam nadar peladas numa boa, sem que alguém aparecesse para fazer DISCURSO, ou arrastar você para um DEBATE (mesmo sem roupa) e pedir para você assinar alguma petição no Avaaz.
Vocês, meus 190 milhões de opinadores compulsivos do Braziu, estão deixando de usar as redes sociais para seu mais nobre fim, que é convencer alguém a tirar as calças. Vocês acham que emitir juízos quase sempre ridículos --e que, mesmo não ridículos, são essencialmente inúteis-- é mais gratificante do que aquilo que o Woody Allen chama de "sexo com a pessoa que você mais ama: você mesmo". Vocês estão fazendo errado.
Vamos voltar às origens da internet-moleque, internet de raiz, internet com dois pontas enfiados (epa, opa). "Internet is for porn"; "internet is not for sua opiniãozinha irrelevante". Essa é a minha opinião, entende?
E vamos à ENQUETE ALEATÓRIA desta semana, com mais uma pergunta de alto grau de complexidade. Se você gosta delas, escreva uma cartinha ao governo federal pedindo que sejam usadas no próximo Enem.
RUY GOIABA teme pelo dia em que as pessoas comecem a fazer discursos nos filminhos do XVideos e do Redtube, mas faz sua parte no consumo de pornografia por um país melhor. Discorda, porém, da proposta de trocar o hino nacional por "Mariquinha, Maricota"; aí já é esculhambação.
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