Vou de táxi pro stand-up
Por pouco, mas muito pouco mesmo, não comecei este texto com "tem uma coisa que eu não entendo", que está para os textos de stand-up como "I woke up this morning" pras letras de blues. Depois disso, em vez do "my baby was gone", você sabe que virá uma SACADINHA pretensamente esperta.
Pois confesso que é assim que me sinto tendo de ser engraçadão uma vez por semana nesta coluna (e falhando miseravelmente, of course). Sempre achei o stand-up brasileiro uma praga ainda pior que o uso indiscriminado da palavra "gourmet" --aliás, outro dia uma imobiliária lançou um EMPREENDIMENTO GOURMET em SP; a argamassa deve ser deliciosa-- e defendo há tempos que aquele clube Comedians, na Augusta, seja interditado pela Vigilância Sanitária.
E, no entanto, eis-me aqui, no palquinho imaginário e por trás do microfone idem. O pior é que, assim por escrito, não posso nem colocar a mão embaixo da axila pra imitar barulho de pum, que é o tipo de HUMOR que fazia gargalhar meus coleguinhas da segunda série e tem efeito semelhante no espectador médio de stand-up brasileiro. Deve ser praga. "Sua mãe sabe que você faz stand-up na internet?"
(Mas, pelo amor de Deus, não pensem que não reconheço o trabalho desses bravos batalhadores da comédia, que se esforçam tanto --geralmente em vão-- pra ser mais engraçados que a vida cotidiana no Brasil. Ao contrário: ganham muita grana, pegam um monte de mulher e fazem humor inteligente tão genialmente disfarçado que é impossível diferenciar do humor burro. Eu mesmo só sei que é INTELIGENTE porque não aparece o Cazalbé de Nóbrega rindo no final da piada. Como não invejar?)
Já disseram que os taxistas têm soluções para TODOS os problemas do país e que só não é uma boa entregar o poder nas mãos deles porque eles o repassariam direto ao Maluf. Minha proposta é mais modesta: transformar todos os taxistas em "comediantes em pé" --pode ser sentado também, com aquele encosto de bolinhas de madeira. Menos carros no trânsito, menos poluição e piadas de taxista contadas por quem entende do assunto: chega de intermediários. (E o que fazer com a turma do stand-up? Sei lá, talvez classificar em vidro, papel, plástico e metal. Um pouco de reciclagem faria bem a eles.)
RUY GOIABA pensa seriamente em trocar de função com um taxista: ele escreve a próxima coluna e eu experimento o banco do carro com aquele assento de bolinhas, que deve ser daora. Nunca foi pego pela mãe fazendo stand-up porque tinha o cuidado de trancar a porta do quarto antes.
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