Factoides

Minha pedra é ametista, minha Brasília amarela

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Sempre encarei a astrologia como um artifício interessante pra quebrar o gelo em conversas com o sexo oposto ("Gêmeos? Eu também, olha só"), mas não muito além disso. Está naquela categoria de assuntos que curto apenas socialmente, como a poesia do Leminski ("'nuvens brancas passam em brancas nuvens', uau. Que insight, né?"), em geral pra agradar a esta ou aquela moça que valha o sacrifício.

Mas, meus amigos, se vocês passam tempo demais nas redes sociais --como eu--, sabem o quanto ela é encarada religiosamente por boa parte dos habitantes desses lugares insalubres. Gente que não tira o nariz de casa se a Susan Miller diz que o planetinha X está na posição Y e que, na feliz expressão de um amigo, usa a astrologia como se fosse o GPS que vai evitar que você dê trombadas, entre na contramão ou se meta num beco sem saída (dica: não vai. Você já nasceu, é tarde demais pra isso).

Parte desse pessoal se considera ateu ou agnóstico e parece achar muito mais racional acreditar nos efeitos desastrosos de Mercúrio retrógrado do que naquele Deus que faz chover fogo e enxofre --que rende pelo menos uns filminhos com efeitos especiais maneiros. Sinto dizer, amigo, mas a cada vez que alguém se declara ateu e faz mapa astral o Richard Dawkins chora encolhido no cantinho.

(Conversando com uma amiga querida, tempos atrás, ouvi dela --meio de zoeira, meio a sério-- que só acreditaria num Deus com quem ela pudesse ir ao cinema. Perguntei se o ascendente dela tinha gostado dos últimos filmes indicados para o Oscar. Tô esperando a resposta até hoje.)

Crédito:

Mas o pior é que rola um bullying pesado com quem teve a má fortuna de nascer no signo incorreto. Fulaninho é do signo X? Gente sem sentimentos, canalhas irredimíveis: fuja, não se relacione, passe para a calçada do outro lado da rua se acaso cruzar com um. Discriminar por raça e orientação sexual não só é muito feio como pode dar cadeia, mas parece que por signo tá liberado --é o preconceito preferido de gente cool.

Na impossibilidade de nascer de novo, com outro signo --de preferência, também na Suíça e herdeiro de milionário--, digo por aí que sou Fuscão preto com ascendente em Brasília amarela (o que aliás me explicaria MUITO melhor que a astrologia). Enquanto esse zodíaco brega não se converte em realidade, faço apenas um apelo: diga não à signofobia. No peito dos caras com mapa astral errado também bate um coração.


RUY GOIABA é geminiano-quase-canceriano, com ascendente em Leão e a Lua em Capricórnio; não faz ideia do que essa mistura quer dizer, mas tem certeza de que ela explica tudo e também o contrário. E acha que "Mercúrio retrógrado" é um Michael Jackson astral fazendo moonwalk.

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