Factoides

A Grobo engroba tudo

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Alguém na internet --infelizmente, não lembro se foi arroba, perfil do Facebook ou se eu sonhei com isso-- escreveu uma vez que os "smartphones" permitem acesso a todo o conhecimento já produzido pelo homem, mas as pessoas usam pra curtir fotos fofas de gatinhos no Instagram.

É mais ou menos a mesma sensação de desperdício que eu tenho ao ver que as redes sociais se comportam basicamente como estações retransmissoras da Grobo (e eu escrevo "Grobo" porque aprendi assim com o saudoso Renato Aragão, quando ele levantava o tapete do cenário dos Trapalhões e dizia "é grama da Grobo". Sim, sei que ele não morreu, mas é saudoso mesmo assim).

E são estações retransmissoras que, aparentemente, não ganham um tostão pra isso. Podiam transmitir programação própria, mas preferem narrar em tempo real o bebebê, a novela, as entrevistas do Josso Ares (uou!) ou a emoção do ator Fulaninho no "Arquivo Confidencial" do Faustão (se o tuiteiro for um estilista, também se indignará com as camisas do apresentador, com o que concordo --é uma mais OLOCO, MEU que a outra).

O resultado é que eu, que nunca fui muito de ver TV, assisto MUITO mais agora, indiretamente, desde que entrei nas redeçociau. Concedo que muitas vezes os comentários são bem melhores que a programação, mas o fato é que, se um dia o Boninho ou o Luciano Huck ou a Regina Casé tropeçarem no fio e desligarem a Grobo, adeus Twitter no Brasil --ninguém terá do que falar.

No fundo, o tuiteiro médio aspira a ser um Louro José comentando o atropelamento da Ana Maria Braga pelo "carro inteligente" (e de que adianta o carro ser inteligente se os usuários são tudo burrão?): EITA NÓIS. Acho que é uma aspiração modesta demais, mas aí lembro que "programação própria" significaria postar fotos de comida, gatinhos e daquela viagem a Buenos Aires. Melhor continuar retransmitindo a papagaiada da Grobo --e eita nóis.


Dizia o poeta Décio Pignatari que o surrealismo não "pegou" no Brasil porque o país já era surrealista. Vale o mesmo para os Euá. Não dá pra competir com uma realidade em que um Elvis cover manda carta envenenada à Casa Branca.


Rolou eleição no Paraguai neste fim de semana. Mas o que me interessa é: quando eles vão anexar o Brasil? Seremos muito mais felizes quando nos assumirmos como Grande Paraguai: "Índia" diz infinitamente mais sobre o caráter nacional brasileiro do que uma kombi lotada de hipsters da rua Augusta. Sobretudo na versão do Tiririca, com "índia, seus cabelos" repetido ao infinito. Brasil, mostra a tua cara --e tira a cantora Perla do armário.


RUY GOIABA é jornalista e fã do país de Larissa Riquelme (mais da Larissa que do país, é verdade). Não tem Instagram nem fotos de Buenos Aires em seu álbum do Facebook. Nunca fez supermercado vestido de Elvis Presley, mas cogita seriamente a ideia, embora ache que vestido de ninja seria mais legal.

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