Factoides

Bono diz que Lula é um tesooooouro

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Os críticos de música ficaram muito decepcionados com o novo clipe de Bono, lançado na última quinta-feira. Esperava-se do líder do U2 versos de forte conteúdo social, tipo "how long, how long must we sing this song?" ou "ele vai dar uma chinelada na barata dela". Em vez disso, Bono se comportou como um Didi Mocó e chamou o ex-presidente Lula de "tesoooooouro!"


"O clipe é de um lirismo cintilante com digressões sombrias de profunda melancolia pós-punk", ia comentar o crítico Joni Fasianaldo, mas mandaram que ele calasse a boca. Ainda bem.


O problema é que Bono é irlandês. E irlandês é apenas um escocês que bebe mal, daí a permanente confusão mental.


Fiquei esperando que um dos dois começasse um Harlem Shake. Não rolou. De qualquer forma, parece que não vai ter uma turnê Bono e Lula, como aconteceu no passado com a dupla Raoni e Sting. Os roqueiros britânicos adoram esse lance de "bom selvagem", mas agora preferem manter uma distância segura. Pegar na mão, tudo bem. Andar junto, nem pensar.


O vídeo do Bono --chamemo-lo de "Clipe Bonobo"-- saiu no mesmo dia em que a inflação marcou 6,5% na escala Rousseff, contrariando todos os prognósticos do Banco Central. Mas o governo garante que o time está unido e que economia é assim mesmo: uma caixinha de surpresas.

Crédito: Edson Aran


A inflação sobe, mas o PIB, em compensação, está lá em baixo. E PIB quando cai no chão, cai sempre com o Mantega virado pra baixo.


A consequência da esbórnia é que o preço do tomate disparou. Minha vizinha, a Zelite, filha do Zelito com a Brigite, acha que é tudo culpa da Nova Classe C. "Esse povo agora está chique, não quer mais massa de latinha! Ainda bem que aqui em casa, a gente só come tomate seco. Desta vez ninguém pode dizer que a culpa é da Zelite..."


A Zelite tem mania de falar dela mesma na terceira pessoa. Não é a toa que ninguém gosta dela. Outro dia, a Zelite me disse: "Pobre só é divertido em novela. De perto, eles falam alto, dançam funk e ficam se empanturrando de tomate. Um horror!".


A Mídia, outra vizinha minha, acha que isso é exagero. "Ai, como essa Zelite é podre!", diz ela, meio brincando, meio a sério. A Mídia é filha do Milton com a Lídia. Dizem que é unha e carne com a Zelite, mas eu tenho lá minhas dúvidas. Amizade feminina é igual pacto entre BBBs. É só uma sair de perto, que a outra começa a falar mal.


O triste é que sem tomate, a indignação social perde cor e substância. Houve um tempo em que o suculento fruto era alegremente atirado na fuça dos políticos. Não mais. Protesto, agora, só com ovo.


Isso se os solertes comunistas chineses não fizerem o preço da iguaria disparar no mercado de futuros. Semana passada, a China mandou uma Revolução Cultural pra cima dos galináceos. As penosas sofreram extermínio em massa, sem que nenhuma voz indignada se erguesse na ONU, G20 ou U2.


Embora analistas internacionais garantam que a China tem pouca tolerância com a galinhagem, parece que o frangocídio não tem razões morais ou políticas. O negócio é gripe aviária.


"Gripe aviária? Isso não existe!", diz a Zelite, abrindo outra garrafa de uísque (como bebe essa Zelite!). "Nunca vi galinha espirrando! É só olhar os minivestidos que elas usam na balada. Galinha não sente frio!"


Fala sério: o Bono usa óculos cor-de-rosa, mas a Zelite não vale nada...


Edson Aran é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Sua série de cartuns "O Totalmente Dispensável Almanaque Inútil do Aran" é publicada mensalmente no "Folhateen". Ele foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.

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