SPFW

Em temporada que preconiza a diversidade, segurança barra dono de marca negro e estilista mostra África europeizada

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Aparentemente distante das passarelas desde o último protesto por mais modelos negros na São Paulo Fashion Week, em 2013, o racismo e os questionamentos sobre apropriação cultural foram temas que voltaram à Bienal do Ibirapuera nesta quinta (31), último dia do evento.

Em mensagem postada numa rede social, o rapper Evandro Fióti, irmão e sócio de Emicida na grife LAB, relatou ter sofrido racismo por parte de um segurança da SPFW ao ser impedido de entrar no prédio na terça-feira (29), dia da apresentação da marca.

"Ser preto é ser barrado pelo segurança do evento até mesmo quando é da sua marca e com pulseira", escreveu o músico, que ainda disse só ter entrado quando o segurança "falou com superiores".

A organização do evento, por sua vez, montou uma operação para abafar o caso e, em comunicado, informou que "tomou medidas" junto à empresa de segurança terceirizada e que "sempre defendeu a diversidade em todos os níveis".

Na noite desta quinta (31), Fióti apareceu para gravar um vídeo ao lado do fundador da SPFW, Paulo Borges, e do segurança envolvido na polêmica, para explicar o fato e falar "sobre a hipocrisia racista que há em todos os lugares", de acordo com uma fonte que acompanhou a gravação. Até a conclusão desta edição, o vídeo não havia sido postado.

Evandro Fióti, da Lab, e Paulo Borges, fundador da SPFW - Francisco Cepeda/AgNews

ÁFRICA E RENDA 


O retorno da estilista Liliane Rebehy e de sua grife Coven à passarela do evento foi um desfile de clichês e ideias mal engendradas sobre o conceito de apropriação cultural.

Inspirada pelas imagens de africanos feitas pela fotógrafa Jackie Nickerson, a mineira mostrou roupas com motivos étnicos, sandálias com amarrações similares às dos turbantes e detalhes de franjas que, em uma primeira leitura, remetiam à indumentária das cerimônias da etnia bijagó, em Guiné-Bissau.

Não houve estudo "in loco" nem parceria com comunidade africana. Rebehy decidiu "falar de ancestralidade", como disse à Folha, livremente. Das 24 modelos do desfile, duas eram negras.

O resultado é um compilado de vestidos, saias e túnicas de estética europeizada, tanto distante do objeto de estudo quanto do próprio sentido de moda brasileira. Sobre apropriação cultural, a estilista é enfática: "Isso não existe. Apropriação, para mim, é cópia. Isso não é uma cópia".

"É chato quando grifes usam a cultura sem questionar as pessoas que fazem parte dela. O problema não é mostrar, mas transformar a gente em produto branco", diz o haitiano Jean Woolmay Denson, 21. O modelo transitava pelo evento todo pintado para "valorizar" sua origem africana.

Foi esse cuidado que a marca Helo Rocha teve ao buscar trabalhar lado a lado com as artesãs de Seridó (RN).

Na passarela, mostrou uma moda baseada na lingerie vitoriana, com rendas e babados feitos em parceria com essas mulheres. "É preciso uma preocupação maior sobre apropriação", disse Rocha, que colocou tranças na cabeleira das modelos para simular as tramas das rendas.

Em uma temporada cujo mote é a diversidade de gênero, cor e estilo, o evento mostrou que o discurso de representatividade pode ser falácia travestida de evolução. Provou que bandeiras não são suficientes se não houver debate amplo sobre elas.

Victor Apolinário, da grife Cemfreio, afirma que se apropriar de traços da cultura africana "tira dos negros toda sua hereditariedade". Ele encerrou o evento mostrando uma coleção feita com gente de fora do meio fashion, intitulada "toda a beleza pode ser".


5º DIA DA SPFW

SAMUEL CIRNANSCK bom

COVEN ruim

HELO ROCHA muito bom

JULIANA JABOUR bom

APARTAMENTO 03 ótimo

RESERVA bom

RATIER regular

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