Tony Goes

O Tintin de Spielberg e a angústia de um fã

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Passei a infância lendo os livros do Tintin. Ele foi meu Harry Potter: até hoje sei de cor e salteado cada reviravolta de cada página. Por isto, foi com um misto de alegria e preocupação que soube que Steven Spielberg finalmente estava levando às telas sua versão das aventuras do jovem repórter belga.

Era um projeto com quase 30 anos. Como quase todos os americanos, Spielberg cresceu sem saber quem era Tintin. Só quando lançou "Caçadores da Arca Perdida" foi que alguém lhe apontou as semelhanças do filme com as peripécias do herói criado por Hergé. Foi amor à primeira vista: o diretor ficou tão empolgado que chegou a visitar o cartunista em Bruxelas, pouco antes da morte deste em março de 83.

Mas o tempo foi passando e nada se concretizou. Nos anos 90, Tintin chegou à TV numa ótima série de animação produzida pela canadense Nelvana, totalmente fiel aos quadrinhos originais. Parecia que Spielberg estava em outra.

Crédito: Reprodução Cena de "As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne"
Cena de "As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne"

Não estava: há alguns anos, anunciou que ele e Peter Jackson (de "O Senhor dos Anéis") adaptariam alguns episódios da série usando a técnica "motion capture". Atores em carne e osso seriam filmados e depois transformados em animação 3D. Uma aposta arriscada, pois poderia descaracterizar totalmente o traço de Hergé e irritar milhões de fãs no mundo inteiro.

Mais ousada ainda foi a decisão de misturar várias aventuras numa só. Esta talvez seja uma mania spielberguiana: ele quis fazer a mesma coisa quando lhe foi oferecida a direção do primeiro filme de Harry Potter, há mais de dez anos. A Warner recusou, de olho nas bilheterias: afinal, quanto mais filmes melhor. E o lobby dos harrymaníacos faria uma algazarra daquelas.

Tintim não tem um lobby tão poderoso, pelo menos não nos Estados Unidos. Desta forma, Spielberg se sentiu à vontade para alterar muita coisa. Mas os primeiros relatos que chegam de gente que viu "O Segredo do Licorne" pronto dizem que ele foi até bastante respeitoso. E a pré-estreia em Paris foi um sucesso retumbante.

Pelo que vi nos trailers que circulam na internet, as sequências de ação estão mais rocambolescas do que nunca. Talvez seja só estratégia de marketing para seduzir o público americano, talvez seja uma maneira inteligente de aproveitar todos os recursos que a animação em 3D oferece.

Os personagens - interpretados por atores do naipe de Daniel Craig, o atual James Bond - causam uma certa estranheza. São realistas, mas não muito. E certamente não são idênticos aos dos quadrinhos, mas até aí tudo bem.

Aos puristas como eu incomoda mais a mistura de tramas. Spielberg incorporou vários elementos de "O Caranguejo das Tenazes de Ouro", como o primeiro encontro entre Tintim e o capitão Haddock.

O filme está estreando primeiro na Europa, para chegar aos EUA já com pinta de grande sucesso. Aqui no Brasil só entra em cartaz em 20 de janeiro. Até lá, vou ter que controlar minha ansiedade.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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