Tony Goes

As chances de "Tropa de Elite 2" no Oscar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dessa vez não houve polêmica. Desde que foram anunciados os 15 inscritos à indicação pelo Brasil ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira (não-inglesa), ficou óbvio que "Tropa de Elite 2" seria o escolhido.

Bem diferente da situação do ano passado, quando não havia um candidato forte e a comissão do MinC acabou selecionando o fraquíssimo "Lula, o Filho do Brasil". Sobraram acusações de favorecimento politico e o filme, um fracasso de crítica e uma decepção nas bilheterias, acabou sendo justamente ignorado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Será que o mesmo destino aguarda o mega-sucesso de José Padilha? Difícil dizer. Depois de chegar entre os cinco finalistas três vezes em apenas quatro anos (em 96, 98 e 99), o Brasil e o Oscar raramente se entenderam. Quase rompemos o jejum em 2008, quando "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, ficou entre os nove pré-indicados - mas não entre os cinco que avançaram à reta final.

Crédito: Divulgação Wagner Moura e Milher Cortaz em cena de "Tropa de Elite 2"
Wagner Moura e Milher Cortaz em cena de "Tropa de Elite 2"

Naquela época o Minc foi criticado por preterir o primeiro "Tropa", mas é provável que esse filme fosse rejeitado solenemente pelo comitê da Academia que seleciona os concorrentes a filme estrangeiro. É notório o conservadorismo desse grupo, que prefere tramas edificantes sobre criancinhas órfãs a obras com violência e crítica social.

Tanto que nenhum dos muitos "favela-movies" escolhidos pelo Brasil nos últimos anos emplacou uma indicação para filme estrangeiro. A começar pelo aclamadíssimo "Cidade de Deus", que fundou o gênero e causou comoção no mundo inteiro. Sua exclusão do páreo em 2003, quando era tido como uma barbada, foi tão escandalosa que a Academia se redimiu no ano seguinte ao indicá-lo em quatro das categorias principais (direção, fotografia, montagem e rotiero original), onde só concorrem filmes exibidos nos EUA durante o ano anterior.

Mas então "Tropa 2" tem chances? De ser indicado, sim. Inclusive porque não é exatamente um "favela-movie", onde é difícil dizer quem é o mocinho e quem é o bandido - coisa que o espectador americano médio abomina. Dessa vez o capitão Nascimento - promovido a secretário de segurança do Rio de Janeiro - luta menos contra o tráfico e mais contra a corrupção, e é sem sombra de dúvida o herói da história. Mais amargurado e mais complexo do que no primeiro filme, mas um herói.

Somem-se a isto as inúmeras qualidades técnicas, o ritmo ágil e, sim, a mensagem edificante, e temos aí um "thriller" de alto nível que não se perde na tradução. O outro se perdeu: "Tropa 1" chegou a ser lançado comercialmente em Nova York e Los Angeles, mas passou em brancas nuvens.

Além do mais, o diretor José Padilha já foi cooptado por Hollywood, no bom sentido. Seu próximo filme será um "remake" de "Robocop". Ele agora é "um dos nossos", ou melhor, deles. Como era Juan José Campanella, que já dirigia séries de TV nos EUA quando levou para a Argentina o Oscar 2010 de filme estrangeiro pelo excelente "O Segredo dos Meus Olhos".

Então uma indicação para o "Tropa 2" é bem possível. Uma vitória, entretanto, é outro papo. Nesse momento, a quatro meses do anúncio dos indicados e quando muitos países ainda nem apontaram seus representantes, eu apostaria em "Where Do We Go Now?", que venceu o prêmio do público no recém-terminado Festival de Toronto - sempre um bom termômetro para o Oscar. Além do mais, é um filme árabe (do Líbano) sobre tolerância religiosa, e dirigido por uma mulher (Nadine Labaki). Um coquetel politicamente correto que pode se mostrar irresistível
Mas isto ainda está longe. Agora é torcer para que "Tropa de Elite 2" pegue um, pegue geral e acabe pegando também os velhinhos da Academia.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias