Tony Goes

"Quem Convence Ganha Mais": Fui Jurado por um Dia

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Alguém aí assistiu à estreia do novo tele-barraco do SBT? "Quem Convence Ganha Mais" foi ao ar na sexta passada, às 8 e 15 da noite, e é parecido com "Casos de Família". A maior diferença é que o lado que "tem razão" no conflito leva um prêmio em dinheiro, e é escolhido pelo voto da plateia e de um pequeno júri. Eu fiz parte desse júri.

Deixa eu retroceder algumas casas. No final de maio, fui procurado por um diretor de elenco da emissora. Ele lê meu blog há anos e somos amigos no Facebook, mas nunca havíamos nos encontrado pessoalmente. Mesmo assim, ele achou que eu tinha o perfil que o programa precisava.

Fui até o SBT, conversei com o diretor Rafael Bello e topei participar da gravação do piloto, alguns dias depois. Mas não prometi que continuaria caso o programa fosse aprovado: para isto eu teria que abandonar meu emprego fixo, pois as gravações aconteceriam às quintas e sextas à tarde.

Mas eu queria passar pela experiência, e ela foi mesmo interessante. Recebi um tratamento de estrela: ganhei um camarim só para mim, com banheiro privativo, TV, DVD, frigo-bar, forno de microondas. Sem falar do prato de frutas e da bandeja de sanduíches e, glória suprema: meu nome na porta.

Fomos gravar. Meus companheiros de bancada - os "conselheiros", como diz o programa - foram a atriz Vida Vlatt, que fazia a empregada Ofrásia no último programa do Clodovil, e Elias Matogrosso, apresentador de uma atração sertaneja numa afiliada do SBT. Todos sob o comando de Suzy Camacho, ex-atriz que se formou em psicologia e que agora retorna à TV.

E aí entrou a primeira família O engraçado é que estavam todos conversando numa boa nos bastidores. Mas foi só surgirem em cena para uma enfiar o dedo na cara da outra, as lágrimas brotarem e as acusações explodirem. O auditório em peso se voltou contra a mãe que abandonou a filha pequena, e ela desatou num pranto convulso. "O que é que eu estou fazendo aqui?", pensei. Não é exatamente o "Manhattan Connection".

Passaram-se alguns dias e a produção me ligou: Sílvio Santos havia assistido ao piloto e a-do-ra-do. Agora queriam gravar mais quatro! Tremi na base. Eu não queria seguir adiante e achei melhor cair fora de uma vez, inclusive para acharem logo meu substituto. Gentilmente declinei.

Mais uns meses se passaram e me ligaram outra vez: meu programa iria ao ar. Fiquei excitado e apreensivo ao mesmo tempo. Ainda assim, avisei a família e os amigos. E na sexta passada me aboletei em frente à TV, esperando passar um vexame daqueles.

Que não aconteceu, porque simplesmente cortaram quase todas as minhas falas. Aliás, não só as minhas: muitas das intervenções dos outros "conselheiros" também não foram ao ar. Não havia tempo. E, no meu caso, acho que queriam que eu aparecesse o menos possível. Semana que vem já não estarei lá, e vai que o público pega amor?

Nos dois conflitos daquela noite, era óbvio quais lados faturariam o prêmio de dois mil reais: a filha abandonada pela mãe e a mulher por quem o marido não "procurava" mais. A plateia votou a favor das duas. E eu votei contra: não por convicção, mas para dar um mínimo de suspense ao programa. Um dos embates precisou ser desempatado pela apresentadora, num desenlace com um tiquinho a mais de emoção. E eu fui punido pela ousadia levando uma sonora vaia do auditório.

Escapei de pagar um mico histórico, mas o SBT cometeu uma pequena gafe. Na legenda que me identificava, lá estava, com todas as letras: "colunista do Estadão"

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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