'A Fórmula' é pueril, mas traz grandes interpretações
A teledramaturgia brasileira está se infantilizando? Alguns críticos já perceberam essa tendência, visível em novelas como "Pega-Pega", da Globo, que consegue ser mais ingênua do que "Malhação", da mesma emissora.
Agora a onda chega à faixa das 23 horas, supostamente voltada ao público adulto. A minissérie "A Fórmula" — que estreou na Globo nesta quinta (6) — quer discutir um assunto sério, o envelhecimento, mas parece não confiar na maturidade do espectador.
O tom excessivamente didático é evidente já nos créditos de abertura, que são embalados pela voz de Drica Moraes explicando a premissa do programa. Ela conta que é Angélica, uma cientista de 50 anos que descobriu uma maneira de rejuvenescer três décadas, ainda que por apenas algumas horas.
Em seguida vemos a personagem esbarrando em Ricardo (Fábio Assunção), seu amor de juventude. Pressionada por um investidor e interessada em reconquistar o antigo namorado, Angélica injeta sua fórmula em si mesma e recupera a aparência que tinha há trinta anos — e passa a ser encarnada por Luísa Arraes.
Aí começa a confusão. Angélica reaparece jovem para Ricardo, que fica compreensivelmente pasmo. Mas ela diz que se chama Afrodite, para não confundir ainda mais o amado. Só que, ao procurá-lo de novo, está de novo envelhecida porque o efeito da fórmula já passou.
Tudo muito leve e divertido, num episódio que durou pouco mais de meia hora. Talvez leve demais: pelo menos na estreia, "A Fórmula" se mostrou mais uma comédia de erros do que um estudo sobre a nossa obsessão com as aparências.
Apesar do clima inconsequente, a série também apresentou um trunfo poderoso: as interpretações de Drica Moraes e Luísa Arraes. Pouco parecidas na vida real, as duas conseguem ficar praticamente idênticas graças a um meticuloso trabalho de caracterização e, principalmente, de preparação de elenco.
Mesmo assim, "A Fórmula" perde na comparação com sua antecessora imediata no horário, a excelente "Vade Retro". A série de Alexandre Machado e Fernanda Young conseguiu arrancar risadas mesmo tratando de um tema pesado — nada menos que o demônio e o fascínio do mal. Além disso, contou com uma realização superior a quase tudo que vemos hoje no ar.
"A Fórmula", que foi criada por Marcelo Saback e Mauro Wilson, parece pelo menos dez anos mais antiga. Talvez se aprofunde mais em seus próximos capítulos (serão oito ao todo). Mas, por enquanto, causaria menos estranheza se fosse exibida mais cedo.
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