Leonardo Vieira faz homofóbico no teatro, e o público adora
Será que finalmente chegamos ao ponto em que a saída do armário faz bem para a carreira de um galã famoso?
O sucesso de "Nove em Ponto" sugere que sim. A peça, escrita por Rui Vilhena (autor da novela "Boogie Oogie", da Globo), reestreou nesta quarta (11) em São Paulo, com casa lotada —uma façanha e tanto para um dia de semana.
Quase uma dezena de fotógrafos também estava presente, registrando a primeira aparição profissional de Leonardo Vieira depois de fotos dele beijando outro homem terem sido publicadas na internet e terem gerado comentários homofóbicos.
Mas o mais interessante foi a recepção do público, calorosa do começo ao fim do espetáculo. E ninguém pareceu se importar com o fato de o ator interpretar um personagem que não apenas é hétero, como também machista e homofóbico.
É verdade que "Nove em Ponto" já ia bem na bilheteria desde que entrou em cartaz pela primeira vez, em outubro do ano passado. Mas a frequência com que um nome de seu elenco frequentou as manchetes nos últimos dias serviu como uma boa propaganda espontânea.
Claro que o público do teatro é diferente do da TV, muito mais amplo e heterogêneo. Só que "Nove em Ponto" não chega a ser uma peça rebuscada. A trama tem evidente apelo popular: dois casais se encontram para jantar e grandes segredos são revelados, sempre em chave de comédia.
Que Leonardo Vieira convença e agrade como um machão empedernido não deixa de ser um avanço. Afinal, este é um dos ofícios básicos de qualquer ator: deixar de ser ele mesmo e parecer que é outra pessoa.
Ninguém acha que o intérprete de um assassino saia por aí matando gente. Sabemos que o casalzinho que nos encanta na novela não namora na vida real e não nos incomodamos com isso. Por que nos incomodaríamos com um gay fazendo papel de hétero?
Mas o senso comum diz que um galã homossexual não pode expor sua verdadeira orientação, sob o risco de arruinar a carreira. A realidade às vezes endossa esta impressão. O ator britânico Rupert Everett, por exemplo, conta que perdeu muitas oportunidades depois de sair do armário (mas não se arrepende de tê-lo feito).
Everett se assumiu nos anos 1990. Hoje existem muitos astros internacionais abertamente gays, como Matt Bomer ou Zachary Quinto. E o segmento LGBT se tornou mais visível do que nunca, tanto na mídia como em quase todas as famílias.
O sucesso de Leonardo Vieira no teatro talvez prove que os brasileiros também estão ficando mais maduros.
O colunista assistiu ao espetáculo a convite da produção.
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