Tony Goes

Será que dessa vez Gregorio Duvivier foi longe demais?

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—A coluna de Gregorio  Duvivier desta segunda (5), "Dona Folha, tá difícil te defender", estarreceu muita gente. Principalmente os que insistem que a Folha, assim como outros veículos da mídia golpista, obriga seus colaboradores a rezarem todos pelo mesmo credo.

O texto é ousado, é verdade. Os brasileiros simplesmente não estamos acostumados com alguém criticando abertamente a empresa onde trabalha. Inclusive porque nosso empregador favorito é o estado, que não costuma lidar bem com qualquer coisa que não seja elogio.

Mas o texto também é coerente com a trajetória de Duvivier, que se tornou uma das vozes mais presentes no nosso debate nacional. Com posições claramente esquerdistas num momento em que a esquerda sai de moda e do poder, ele também virou um alvo frequente de seus adversários políticos.

O fato de também ser humorista —um dos mais bem-sucedidos de sua geração— costuma ser usado contra ele. Para muitos, quem faz rir não tem gabarito para falar de coisa séria, e muito menos de fazer críticas. Esquecem-se de que não existe humor a favor.

No momento em que escrevo, a coluna já foi compartilhada 34 mil vezes no Facebook. Também atraiu mais comentários do que de costume, e bastante divididos. Internet afora, há quem assine embaixo e quem exija sua demissão imediata do jornal.

Num momento menos conflagrado, talvez Duvivier não gerasse tanta polêmica. Seus esquetes no Porta dos Fundos são inteligentes e evitam baixarias. Suas crônicas sobre o cotidiano têm apelo universal. Sua poesia vem sendo muito elogiada. Como se não bastasse, o rapaz também canta e dança o suficiente para estrelar grandes musicais.

Duvivier poderia ficar quietinho e se consagrar como um artista multimídia. Mas escolheu usar sua articulação verbal para defender o que acredita, e está pagando um preço por isto. Nas redes sociais, há quem o chame de Dodóivier. Um apelido carinhoso, se comparado à avalanche de ofensas que também recebe.

O que alguns talvez desconheçam é que não é preciso concordar 100% com o ideário político de Gregorio  Duvivier para desfrutar de seus talentos. Eu, por exemplo, não concordo. Nem por isto deixo de lê-lo, porque seus textos são sempre elegantes e afiados. O mesmo não se pode dizer do que escrevem vários de seus algozes.

Duvivier foi longe demais? Foi, para os padrões pré-estabelecidos. O bom é que também levou muitos de nós com ele.

Gregorio Duvivier
Gregorio Duvivier - Bruno Poletti; Folhapress


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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