Tony Goes

Galãs de meia-idade como Montagner são raros, e sempre muito disputados

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Nas emissoras que produzem dramaturgia, existe um tipo de profissional que boa parte do público desconhece: o diretor de elenco. É ele quem vai atrás dos atores para preencher todos os papéis de uma novela ou uma série, sugerindo nomes para o autor e o diretor da obra.

Pergunte a qualquer diretor de elenco qual é o tipo de ator mais difícil de encontrar, e ele responderá: o galã de meia-idade. Aquele cara com mais de 40 anos com talento, beleza e carisma suficientes para encarnar um personagem principal.

Toda novela precisa de dois casais, me disse uma vez um diretor de núcleo da Globo, um bem jovem, e o outro, mais maduro. É verdade. Praticamente todos os folhetins da nossa TV giram em torno desse eixo binário: o casalzinho que está descobrindo o amor, e o casal mais velho em busca de uma segunda chance.

Mas um fenômeno curioso aconteceu no Brasil. A geração nascida entre o final dos anos 1950 e o final dos 1960 produziu uma safra recorde de atrizes de peso, como Andréa Beltrão, Débora Bloch ou Adriana Esteves. Por alguma razão misteriosa, há poucos astros masculinos do mesmo porte nessa faixa etária.

Isto faz com que as estrelas femininas acabem formando par romântico com atores bem mais jovens do que elas. Como Fernanda Torres e Vladimir Brichta em "Tapas e Beijos", ou Lília Cabral e Dalton Vigh em "Fina Estampa".


(FILES) Picture taken on November 2, 2015 in Sao Paulo, Brazil of Brazilian actor Domingos Montagner. Montagner drowned on September 15, 2016 whilst bathing in the Sao Francisco River in Caninde de Sa
O ator Domingos Montagner - AMAURI NEHN; AFP


A questão é mais grave do que parece. Basta lembrar da crise aberta há pouco mais de um ano, quando Murilo Benício deixou o elenco de "A Regra do Jogo".

Sem muitas opções disponíveis, a cúpula da Globo acabou escalando Alexandre Nero para o personagem de Romero Rômulo, o principal da novela. E contrariou uma das próprias regras da casa: Nero havia protagonizado Império, encerrada menos de seis meses antes, e portanto deveria ficar um certo tempo fora do ar, para descansar a imagem.


Nero, Rodrigo Lombardi e Domingos Montagner formavam o trio de galãs de meia-idade que emergiu na última década. Nunca faltou trabalho para eles. O diretor Jayme Monjardim e a autora Lícia Manzo chegaram a esperar dois anos para que se abrisse um espaço na concorridíssima agenda de Montagner, pois faziam questão de que ele fosse o protagonista da novela "Sete Vidas".

A curtíssimo prazo, a Globo tem um pepinaço nas mãos: como terminar "Velho Chico" sem a presença de um de seus protagonistas? Montagner já havia terminado de gravar nas locações em Sergipe, mas ainda faltavam algumas cenas de estúdio.

A médio prazo, o problema também é considerável. Domingos Montagner era um ator estratégico para a emissora. Disputado pelos diretores, elogiado pela crítica e adorado pelos colegas. Já está fazendo falta.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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