A linda abertura da Paraolimpíada levantou questões importantes
Ufa. Depois de uma Olimpíada plenamente bem-sucedida, com cerimônias de abertura e encerramento que encheram os olhos, acho que estávamos bem mais relaxados nesta quarta (7), quando começou a Paraolimpíada. Já provamos para o mundo que sabemos fazer eventos grandiosos e shows espetaculares. Agora é correr para o abraço.
A festa que ocupou o Maracanã foi divertida, emocionante e até engraçada. Quem foi que teve a ideia de fazer Vinícius, o mascote olímpico, desfilar pelo estádio usando um vestido dourado que lembrou o de Gisele Bündchen? Merece um Oscar.
Essa singela aparição acabou traduzindo um pouco do espírito desses Jogos Paralímpicos. É como se os organizadores assumissem que não contam com os mesmos recursos que os Jogos "normais": "Não temos a maior top model do mundo, mas vamos comemorar assim mesmo".
Também merecem prêmios os cariocas e turistas que correram para as bilheterias nos últimos dias, salvando a Paraolimpíada do fiasco comercial (e evitando um rombo ainda maior nas finanças do combalido Estado do Rio de Janeiro). E não foi por caridade: foi para prolongar o delicioso clima de euforia que se instalou na cidade desde o início de agosto.
Por outro lado, nossas emissoras de TV merecem puxões de orelhas. Só dois canais transmitiram ao vivo a cerimônia de abertura: o aberto TV Brasil, que é estatal, e o pago SporTV 2 - sim, o 2, porque o 1 tinha algo mais importante a passar.
Nos próximos dias, o máximo que teremos na TV serão boletins nos telejornais com os resultados das provas. Poucas serão transmitidas ao vivo. O curioso é que não falta emoção à maioria delas, e o Brasil tem chances de ganhar muito mais medalhas do que na Olimpíada "normal".
Mesmo assim, nunca prestamos tanta atenção no esporte paraolímpico, e isto já é um avanço e tanto. Também começa a mudar a percepção de que seus praticantes são uns coitados. Começamos a vê-los como superatletas, que enfrentam obstáculos ainda mais desafiadores que os demais.
Até o dia 18 de setembro, quando se encerram esses Jogos, os portadores de deficiência ocuparão um espaço inédito na mídia. Vamos conhecê-los melhor, desmistificá-los, sofrer e vibrar com eles. Iremos incluí-los, ainda que por pouco tempo, nas nossas rotinas. E aí a Paraolimpíada terá cumprido seu objetivo maior, que é a inclusão.
Mas ela só será totalmente vitoriosa no dia em que acabar. Quando não houver mais a necessidade de dois eventos separados, sendo que um deles é meio de segunda classe.
Algum dia, atletas e paratletas competirão juntos. Não nas mesmas provas, mas na mesma Olimpíada. São todos esportistas, somos todos humanos.
Falta muito?
Comentários
Ver todos os comentários