Por que Rafaela Silva só ganhou respeito depois do ouro?
Ah, a diferença que uma medalhinha faz.
Quatro anos atrás, Rafaela Silva foi escorraçada na internet. A judoca cometeu uma falta que a desclassificou da Olimpíada de Londres.
Foi sem querer, é claro. Mas este erro involuntário serviu como autorização para os racistas apedrejarem-na com comentários horrorosos.
"Macaca", "volta para a jaula", "vergonha" e daí para baixo. Rafaela leu as injúrias logo depois da luta. Seu sangue ferveu e ela respondeu à altura.
Para quê? Não se ganha uma discussão na web. Cada resposta a um imbecil funciona como água sobre um gremlin: eles se multiplicam, e redobram o ataque.
O Comitê Olímpico Brasileiro advertiu Rafaela e limitou seu acesso à internet, para protegê-la. Mesmo assim, a atleta ficou tão abalada que quase desistiu da carreira.
Renasceu um ano depois, quando arrebatou o título mundial de sua categoria. E ontem calou a boca de seus críticos de uma vez por todas: ganhou a primeira medalha de ouro para o Brasil na Rio-2016.
Mas não deveria ser assim. Ninguém precisaria ter que conquistar uma medalha para ser tratado com um mínimo de civilidade.
Só que o advento da internet funcionou como um "liberou geral" para o lado escuro do ser humano. No mundo inteiro, racistas, homofóbicos, machistas e preconceituosos em geral se valem do anonimato propiciado pela rede para extravasar ódio e recalque.
Agora Rafaela Silva é a heroína da vez. Sua história de vida virou exemplo de superação, essa palavrinha mágica tão querida pelos grandes anunciantes e pelos programas de auditório.
Enquanto isto, a nadadora Joanna Maranhão —outra que dedicou a vida para trazer glórias ao esporte nacional— é hostilizada nas redes sociais.
O pecado dela? Chegou em 15º. lugar na prova dos 400 m medley. Treinou arduamente, competiu com bravura e perdeu. Para os internautas que nunca ouviram falar em espírito olímpico, isto basta para torná-la um alvo permitido.
Joanna vai processar todos os algozes que conseguir identificar. Enquanto isto, Rafaela tem um futuro róseo a curto prazo: irá estrelar campanhas publicitárias, frequentará talk shows, será cantada em verso e prosa. Até quando só iremos respeitar os vitoriosos?
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