Tony Goes

Por baixo da pinta de mau, Guilherme Karam era um doce 

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 Seus personagens mais lembrados tinham todos um lado negro.

O Zeca Bordoada da “TV Pirata” (1987-1990, Globo) era a epítome do cafajeste. O Porfírio da novela “Meu Bem, Meu Mal” (1990, também da Globo, atualmente sendo reprisada pelo canal Viva) fez tanto bullying verbal com sua “divina Magda” (Vera Zimmermann), que acabou conquistando-a.

E milhões de crianças se apavoraram com o vilão que aparece no título do filme “Super Xuxa contra o Baixo Astral” (1988).

Mas, na vida real, Guilherme Karam era uma pessoa gentil e atenciosa.

Hoje as redes sociais estão coalhadas de mensagens saudosas de seus colegas, que contracenaram e/ou conviveram com um dos atores mais engraçados de sua geração.

Lembro de um ensaio do musical “Viralats”, uma sátira de “Cats”, a que assisti no Rio de Janeiro em 1989. Fui levado por um amigo em comum, mas era um total intruso num instante de criação alheia. Fiquei impressionado com a voz de tenor que Karam pouco usava na TV.

Ele também participou de uma das peças mais engraçadas que vi na vida, “A Família Titanic” (1983), de Mauro Rasi, ao lado de Pedro Cardoso, Zezé Polessa, Cláudia Jimenez e do falecido Felipe Pinheiro.

E ainda fez uma dupla memorável com Miguel Falabella em espetáculos de besteirol que praticamente definiram as décadas de 1980 e 1990.

É triste pensar que uma carreira tão marcada pela comédia tenha tido um fim abrupto.

Karam havia deixado de atuar há mais uma década: seu último trabalho na TV foi na novela “América” (2004, Globo), de Glória Perez — que gostava de escalá-lo como alívio cômico em suas produções.

Os sintomas da síndrome de Machado-Joseph já estavam se manifestando. Guilherme Karam e seus três irmãos herdaram, pelo lado materno, essa rara e terrível doença degenerativa.Dois desses irmãos já morreram. E o ator, após dois anos internado num hospital carioca, sem poder falar ou andar, se foi nesta quinta-feira (7).

Filho do ex-ministro da Marinha Alfredo Karam, ele sempre foi discreto em sua vida pessoal. Não é de se admirar que tenha escolhido viver seu calvário particular longe das câmeras.Mas  a reação da internet a seu falecimento mostra que o ator ainda era muito querido.

Seu talento já nos fazia falta havia muito tempo, mas pelo menos agora ele está livre de seu fardo. Que continue a brilhar.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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