Tony Goes

Reação a 'bela, recatada e do lar' mostra que machismo não tem mais passe livre

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Maria Bethânia ainda bem jovem, com os seios à mostra. Paulo Betti caracterizado como “Betti, a Feia”. Inês Brasil, sempre ela, em todas as poses possíveis e imagináveis. E mais um montão de anônimas e famosas: caídas no chão, sambando em cima da mesa, bebendo direto da garrafa.

Imagens como estas começaram a invadir as redes sociais desde o começo da semana. E o quê todas elas têm em comum? A legenda “bela, recatada e do lar”. São tantas, mas tantas, que já surgiu até um Tumblr para reunir as melhores.

O epicentro dessa mania, para variar, está na "Veja", a publicação mais visada do Brasil. A revista publicou uma reportagem com este título —“Bela, recatada e 'do lar'"— em sua mais recente edição, assinada pela jornalista Juliana Linhares. Trata-se de um perfil de Marcela Temer, nossa provável futura primeira-dama.

Marcela é indiscutivelmente bela. Nenhum problema com isso. Também é corretíssimo dizer que ela é "do lar": como milhões de brasileiras, ela optou por não trabalhar fora e cuidar do filho, ainda mais porque sua condição financeira assim o permite.

O que pegou mesmo foi o “recatada”. A palavra incomodou as atrizes Mika Lins e Julia Bobrow, que viram nela um juízo de valor. De fato, "recatada" tem uma conotação diferente de "discreta": lembra "comportada", como se isto fosse uma condição desejável não só para a mulher de um político, como para todas as mulheres em geral.

Mika e Julia postaram fotos com essa chamada, e a brincadeira logo se espalhou. Na manhã desta quarta-feira (20), parece que todos os internautas do Brasil aderiram. E começam a pipocar variações. A melhor, até o momento: Cláudia Cruz, a mulher de Eduardo Cunha, com a legenda "bela, recatada e dólar".

Também já surgiu uma contrarreação, é óbvio. Tem gente reclamando que a "Veja" está sendo injustamente perseguida, ou interpretando (errado) que o alvo é a própria Marcela Temer. Faz parte. 

E não faz mal. O que importa é que, mais uma vez, a internet está nos fazendo rir. Deus, a família e a nação Quadrangular sabem que estamos precisando disso. 

Além do mais, a zoação com "bela, recatada e do lar" revela que o machismo não tem mais passe livre. Mesmo quando é sutil e supostamente inofensivo (nunca é). Mesmo quando é... recatado.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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