Tony Goes

'A Regra do Jogo' poderia ter sido um grande seriado

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“Os dramaturgos da Globo, todos muito talentosos, têm um pouco de 'síndrome de seriado americano'. O seriado americano não é para um público tão generalizado como o de novela. Sou fã de seriados americanos, mas quem assiste, por exemplo, 'Breaking Bad', não assiste outro tipo de seriado. É um público muito fracionado”.
 
Alexandre Avancini deu essa declaração num evento de lançamento de “Os Dez Mandamentos”, o filme baseado na novela que ele dirigiu na Record. Concordo com ele, mas também discordo.
 
Discordo porque a Globo ainda reúne os autores mais renomados e experientes do Brasil. Walcyr Carrasco, por exemplo, sabe escrever novela como ninguém: haja vista o primor que é “Êta Mundo Bom!”, que não tem um núcleo fora do lugar. Um novelão tradicional, que levantou a audiência do horário.

Vanessa Giácomo e Alexandre Nero em "A Regra do Jogo"
Vanessa Giácomo e Alexandre Nero em "A Regra do Jogo" - Divulgação/Globo

Mas também concordo, porque seriados e minisséries são muito mais atraentes para um roteirista do que uma novela. Novela é enrolação: o foco se dilui entre dezenas de personagens, a ação se arrasta, o tempo não passa. Nem a melhor equipe do mundo é capaz de desovar seis ótimos capítulos por semana durante meses a fio.
 
Os formatos mais curtos, por outro lado, não chateiam nem quem os assiste, nem quem os escreve. O próprio Carrasco acabou de se exercitar no gênero com “Verdades Secretas”, com ótimos resultados.
 
A nova geração de roteiristas da Globo, então, “só pensa naquilo”. Claro que ninguém se recusa a escrever novela, que ainda é o produto mais importante da casa. Mas, se pudessem escolher, aposto que quase todos prefeririam se dedicar a séries no estilo americano, sem tramas paralelas.
 
Este parece ser o caso de João Emanuel Carneiro e seus colaboradores em “A Regra do Jogo”. A novela não chega a ser revolucionária, mas está longe de seguir o molde do gênero. A começar pelos títulos individuais de cada capítulo, uma prática comum apenas nos seriados.
 
A novela demorou para engrenar, mas agora está bombando. Também vem arrancando muitos elogios da crítica, tanto pela intrincada trama policial quanto pelas atuações do elenco excelente.
 
Mas também existe uma reclamação constante, e eu a endosso. “A Regra do Jogo” não precisava de enredos secundários, como o do “crossdresser” Breno (Otávio Müller). Até que é atual e divertido, mas acaba atrapalhando a trama principal.
 
Em suma: “A Regra do Jogo” seria muito melhor como seriado. Poderia até ter temporadas, como a badalada “Breaking Bad” —que contou uma única história ao longo de cinco anos. Quem sabe um dia a Globo não a reedita?

 
 

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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