Tony Goes

Por que existem tão poucas celebridades assumidamente gays no Brasil?

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Anderson Cooper, um dos jornalistas mais famosos da rede americana CNN, enfrentou anos de boatos até resolver sair do armário. Sua carreira não sofreu o menor abalo com isto, pelo contrário. Na rival CNBC, a lésbica Rachel Maddow é a maior atração da emissora.

Na América Latina os gays famosos são mais raros, mas existem alguns. O mais notório talvez seja Ricky Martin. Há também o apresentador peruano Jaime Bayly, uma das maiores celebridades de seu país, que volta e meia lança romances onde ficcionaliza sua movimentada vida amorosa.

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E no Brasil? Bom, por aqui existe uma tradição de cantoras abertamente gays ou bissexuais desde os anos 1970. Daniela Mercury é só o mais recente acréscimo a uma lista que inclui Ângela Ro Ro, Ana Carolina, Maria Gadú e muitas outras.

A coisa muda de figura quando falamos em atores. São pouquíssimos os que admitem a própria homossexualidade. Quando o fazem, já estão naquela fase da carreira em que não devem mais nada para ninguém: Ítalo Rossi, Marco Nanini, Luís Fernando Guimarães.

Por isto que Paulo Gustavo é digno de aplausos. Poucos de sua geração, com fama equivalente, se assumiram tão tranquilamente (outro exemplo que me ocorre é Matheus Nachtergaele). A pouca polêmica que houve foi quando ele declarou ser contra as paradas gays e não querer levantar bandeiras. No entanto, o simples gesto de se assumir gay já é uma bandeira e tanto.


No domingo (20), Paulo Gustavo celebrou seu casamento com o médico Thales Bretas com uma festança no Rio de Janeiro. Mas proibiu a entrada de fotógrafos e confiscou os celulares de seus convidados. Também provocou um certo reboliço nas redes sociais: segundo relatos, não beijou o noivo, só o abraçou. Alguns internautas acusaram o ator de homofobia internalizada.

Pois eu já acho que Paulo Gustavo pode fazer o que quiser em seu casamento, e que ninguém tem o direito de lhe cobrar nada. Só o fato dele não ter se casado em segredo já deu uma força para a causa LGBT.

Mas é sintomático que ele tenha procurado se preservar em pleno dia de comemoração. Cada um sabe onde lhe dói o calo, claro, mas Paulo Gustavo parece ter se esforçado para ser discreto e não ofender ninguém.

Só que tem sempre quem se ofenda. Basta olhar os comentários anônimos nos sites que noticiaram o casório. A pedrada da moda é dizer que Paulo Gustavo está tentando "se promover" — justamente o que ele não quer fazer.

Esta é só uma das razões pelas quais são pouquíssimos os famosos declaradamente gays no Brasil. Sim, eles vêm aumentando ano a ano. Mas quase todos têm muito a perder.

Um jovem galã, por exemplo, pode encerrar sua carreira se disser que prefere rapazes. Sem falar na histeria conservadora, muitas vezes vinda de políticos que são religiosos de araque.

A bem da verdade, não é só aqui. Até países moderninhos como a Suécia ou a Holanda estão longe de serem oásis de aceitação. Mas o Brasil tem suas peculiaridades: muita gente faz, muita gente sabe. Mas poucos falam e todos criticam. O resultado? Ainda não saímos do século 19.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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