Tony Goes

'Homofóbica Rússia' quase vence o festival de música mais gay do mundo

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Foi por pouco, e teria sido a maior das ironias. Ainda mais no mesmíssimo dia em que se constatou a vitória acachapante do "sim" no referendo sobre o casamento gay na Irlanda.

Mas, no final, "A Million Voices" —a música que representou a Rússia na edição de 2015 do Eurovision— foi passada para trás por "Heroes", a candidata da Suécia. Isto quer dizer que no ano que vem o festival será sediado em Estocolmo, e não em Moscou.

Já pensou, quanto babado e confusão? Porque a Rússia vem se notabilizando por aprovar leis que vetam a "propaganda gay" —na prática, uma das legislações mais homofóbicas da Europa.

E o Eurovision é simplesmente um dos eventos mais simpatizantes aos gays do mundo, tanto no palco como na audiência. A prefeitura de Viena, a cidade-sede deste ano, instalou semáforos para pedestres ilustrados por casaizinhos do mesmo sexo em homenagem ao festival.

No ano passado, o presidente russo Vladimir Putin chegou a se pronunciar contra Conchita Wurst, a drag queen barbada que venceu o Eurovision para a Áustria. Ela nem foi a primeira transformista a alcançar essa vitória: foi precedida pela israelense Dana International, em 2008.


A Rússia propôs até mesmo que o país se retirasse do evento e promovesse um novo festival com os ex-membros da União Soviética, sempre respeitando "a moral e os bons costumes". O plano não foi adiante, e este ano os russos inscreveram no evento uma baladona cuja letra celebra, veja só, a diversidade.

E foram muito bem-sucedidos. Além da perfeita sintonia com o tema do festival deste ano, "building bridges" ("construindo pontes"), "A Million Voices" logo foi apontada como uma das favoritas pelas casas de apostas.

Mas, quando foi apresentada pela cantora Polina Gagarina na semifinal de quinta-feira (21), dezenas de bandeiras do arco-íris foram levantadas pelo público que lotava o ginásio Wiener Stadthalle. E, durante a apuração na grande final de sábado (23), as apresentadoras precisaram acalmar os ânimos da plateia quando a Rússia assumiu a dianteira na pontuação: "Vamos focar na música, não na política!".

Só que essa dianteira durou pouco. A também favorita Suécia ultrapassou a Rússia e encerrou o placar com mais de 50 pontos de vantagem. Portanto, o Eurovision de 2016 será sediado num dos países mais liberais do mundo, e não num dos mais retrógrados.

Por outro lado, até que seria bom para a causa gay que o festival fosse para a Rússia. O país já teve que engolir shows de Madonna, Elton John e Lady Gaga, e vem sofrendo pressões internacionais para aliviar suas leis draconianas. Enfrentou protestos veementes durante os Jogos de Inverno de Sochi em 2014, e já se prepara para encarar um boicote na Copa do Mundo de 2018.

Um tsunami cor de rosa como o Eurovision seria difícil de controlar.

Confira a performance de Polina Gagarina, a representante russa, com "A Million Voices", que chegou em segundo lugar.


E "Heroes", a candidata da Suécia que venceu o festival, interpretada por Mans Zelmerlöw:


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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