Tony Goes

Novo 'Zorra' é Porta dos Fundos com 'Tá no Ar', tudo junto e misturado

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Apesar do sucesso e da longevidade, o antigo "Zorra Total" dividia opiniões. Eu, particularmente, odiava. Achava que assistir ao programa era sinal de que a sua vida não dera certo, por duas razões: a) você não tem amigos e micou em casa em pleno sábado à noite; b) você não tem dinheiro para assinar TV a cabo.

Consciente da rejeição de boa parte do público, a Globo resolveu extinguir o formato. Aposentou o diretor Maurício Sherman, e com ele uma maneira de fazer humor que vem desde as caravelas portuguesas, passando pelo rádio e por humorísticos clássicos como "Balança Mas Não Cai": os personagens estereotipados, os bordões repetitivos, o preconceito contra mulheres, negros e gays.

Chamou Marcius Melhem e Mauricio Farias —corresponsáveis, ao lado de Marcelo Adnet, pelo novo xodó da casa, o iconoclasta "Tá no Ar"— para repaginar a atração. Chegou-se a pensar num título totalmente novo, mas o departamento comercial da emissora desrecomendou. Fechou-se, então, em apenas "Zorra", para não assustar o público fiel do horário.


Mas, tirando vários nomes do elenco, pouca coisa sobrou do velho "Zorra Total". Nada de cenários nem tipos fixos, nem mesmo os bordões que volta e meia caíam na boca do povo. Uma proposta ousada, mas que combina com o novo estilo de humor que emana da internet.

A ousadia ficou escancarada logo no início do programa. Um esquete longo e elaboradíssimo, envolvendo helicópteros e agentes mascarados, culminou numa piadinha boba —a graça estava justamente no contraste entre a simplicidade da piada e o requinte da produção.

Seguiu-se um número musical, algo frequente no formato antigo. Mas a letra audaciosa citou a idade de Glória Maria, "ressuscitou" as personagens Valéria e Janete e admitiu que, se a nova versão não der certo, irão todos parar na Rede TV! (é bom lembrar que, há até bem pouco tempo, na Globo era pecado mortal citar a concorrência pelo nome).

As redes sociais imediatamente reagiram, e de maneira maciçamente positiva. No Twitter e no Facebook, os comentários eram de agrado e surpresa. Claro que havia gente descontente, mas onde já se viu um programa de humor ser aprovado por unanimidade?

A audiência também respondeu bem. Segundo dados preliminares do Ibope, o novo "Zorra" cresceu 10% em audiência em relação à semana anterior, atingindo pico de 22,5 pontos na Grande São Paulo e média de 19,5.

Mas, e o programa em si, é bom? É. A comparação mais imediata é com "Tá no Ar": esquetes rapidíssimos, cenários mirabolantes, irreverência. Os quadros mais longos foram justamente os que menos funcionaram, como o do funcionário que vai pedir demissão.

Também foi nítida a influência do extinto "Junto e Misturado", o embrião deste novo humor na Globo —inclusive pela presença de duas de suas atrizes, Débora Lamm e Renata Castro barbosa. Sem falar, é claro, do Porta dos Fundos: esquetes como o do aplicativo de assalto poderiam estar tranquilamente no canal de humor brasileiro mais visto do YouTube.

E no meio disso tudo há caras familiares da outra encarnação, como Fabiana Karla, Nélson Freitas ou Rodrigo Sant'anna. Talvez por isto mesmo possamos dizer que o novo "Zorra" ainda não tem personalidade própria: parece uma colcha de retalhos de outros programas. Mas vai ver que a intenção é esta mesma —criar uma zorra total.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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