Tony Goes

Destaque do Grammy, Sam Smith comprova que pé na bunda, às vezes, pode ser bom

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Faz tempo que o foco da entrega do Grammy deixou de ser o prêmio em si. Apenas uma dúzia de troféus foi entregue ao longo de mais de três horas e meia na madrugada de domingo (8) para segunda (9), numa cerimônia ainda mais comprida que a dos Oscars.

A imensa maioria dos vencedores das 83 categorias foi anunciada antes da transmissão pela TV, onde o que realmente interessava eram as performances no palco. Tanto que ainda houve dois blocos com números musicais depois do último prêmio da noite.

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Foram 23 apresentações ao todo, cobrindo quase todo o espectro da música popular consumida nos Estados Unidos. As combinações inusitadas de artistas de gêneros diferentes já são uma tradição da festa. O que realmente surpreendeu foi o tom solene e o despojamento generalizado.

Só dois números tiveram ares de superprodução. Um deles, como não podia deixar de ser, foi o de Madonna. Depois de quase três anos longe de eventos desse tipo, ela recriou ao vivo seu clipe para "Living for Love", com minotauros bailarinos e muita provocação. Foi o único momento abertamente erótico do programa —um atrevimento ainda maior quando lembramos que Madge está com 56 anos.

Mas ela será mais lembrada pelo que fez antes do show, ainda no tapete vermelho. A bordo de um figurino de toureira sexy assinado por Givenchy, Madonna não resistiu a levantar a microssaia e mostrar a bunda para a humanidade. Ela está se tornando a Dercy Gonçalves do pop.

A outra apresentação no estilo "over" que consagrou o Grammy foi a de Pharrell, que tentou dar uma cara nova à batidíssima "Happy", o maior hit planetário do ano passado. Ele ainda levou o prêmio de melhor performance vocal pop por uma versão ao vivo da mesma música —a maneira que os organizadores encontraram por tê-la ignorado no ano passado.

Mas a noite foi mesmo de Sam Smith, que venceu em quatro das seis categorias a que foi indicado. O rapaz é uma espécie de Adele de calças: ambos são ingleses, rechonchudos e donos de vozeirões. E ambos dedicaram seus discos vitoriosos aos sujeitos que os rejeitaram. Esses pés na bunda renderam magníficas canções de dor de cotovelo, e alguns milhões nas respectivas contas bancárias.

Apesar de sua consagração ser esperada, Sam Smith ganhou um prêmio polêmico: o de melhor composição para "Stay With Me". Acontece que a música é absolutamente idêntica a "I Won't Back Down", de Tom Petty; apenas os andamentos são diferentes.

Mas não haverá batalha nos tribunais. Os advogados de ambas as partes chegaram a um acordo amigável, e Petty receberá 12,5% dos royalties de "Stay With Me". Não há sequer acusações de plágio: tudo não passou de coincidência, disse o músico americano.

Sam Smith acabou perdendo o maior prêmio da noite, o de álbum do ano. O Grammy costuma surpreender nessa categoria, agraciando algum medalhão com muitos anos de carreira. Dessa vez o escolhido foi Beck com "Morning Phase", um disco adorado pela crítica e que já tinha vencido na categoria rock.

A noite ainda teve uma inesperada (embora pertinente) mensagem política: num discurso pré-gravado, o presidente Obama condenou a violência contra as mulheres. Seguiu-se uma apresentação contida de Katy Perry, bem distinta da efervescência que ela apresentou no intervalo do Super Bowl na semana passada.

Aliás, contenção foi uma das tônicas da cerimônia, que preferiu valorizar o talento musical de seus convidados do que cenários e coreografias mirabolante. Uma decisão acertada, que teve seu melhor resultado no encontro entre o calouro Hozier e a diva Annie Lennox.

No fundo, o Grammy não passa de um gigantesco comercial para a indústria fonográfica. Ela pode estar na lona, mas ainda sabe produzir uma cerimônia memorável. A deste ano foi mais séria do que de costume e praticamente interminável, mas teve muitos bons momentos.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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