Os apresentadores da TV americana sabem a hora de sair de cena
Em maio do ano que vem, irá ao ar pela rede americana CBS o último "Late Show" comandado por David Letterman. A audiência do programa ainda é boa e os anunciantes continuam comparecendo. No entanto, o próprio Letterman sentiu que estava na hora de parar.
Ele nem está tão velho assim: jogará a toalha aos 68 anos de idade, com saúde e disposição para desfrutar dos milhões que acumulou ao longo de uma carreira de sucesso. Mas percebeu que estava se tornando um dinossauro num ecossistema repleto de caras novas.
Seu maior concorrente direto não é mais Jay Leno, com quem esteve mais ou menos em guerra durante quase trinta anos. O rival puxou o carro no começo de 2013, depois de ter sabotado a própria aposentadoria alguns anos antes - ele conseguiu substituir seu substituto, Conan O'Brien, que fracassou no horário e acabou exilado na TV a cabo.
Leno finalmente cedeu seu posto no "Tonight Show" ao comediante Jimmy Fallon, mais conhecido pelo tempo que passou no humorístico "Saturday Night Live" do que pelos poucos filmes que estrelou. Ninguém achava que Fallon manteria a liderança do programa, mas ele até a aumentou. Foi uma troca de guarda plenamente bem sucedida.
Na verdade, essa passada de bastão é uma tradição na TV americana. O próprio Johnny Carson, o mais célebre dos apresentadores de "talk show", achou melhor sair de cena enquanto ainda estava bem do que definhar em frente às câmeras, vendo sua audiência cair dia a dia.
Existem muitos outros exemplos, como o da jornalista Barbara Walters, ou o da própria Oprah Winfrey, que abdicou de seu programa diário para comandar um pequeno império de comunicação.
Há um roteiro pré-estabelecido. Começa com a estrela anunciando que chegou sua hora de ir brilhar em casa. Geralmente segue-se todo um ano de despedidas e homenagens, cheio de convidados especiais e retrospectivas dos melhores momentos.
Quando chega o grande dia, o último, o clima é de festa. Aplausos, agradecimentos, chuva de papel picado, e no dia seguinte alguém bem mais novo já está ocupando aquele espaço.
Isso raramente acontece no Brasil. Alguém se lembra da despedida de Hebe Camargo? Pois é, não teve. Mesmo doente, a "loiruda" preferiu que seu programa minguasse aos poucos numa emissora de poucos recursos.
Esta é a nossa cultura. Achamos que a aposentadoria é o pior dos castigos, e que é digno alguém permanecer no ar até não dar mais nenhum ponto. É até comum ouvirmos coisas do tipo "coitado, mas se ele parar, ele morre!".
Só que o tempo passa para todo mundo, e uma nova geração de espectadores acaba forçando a renovação. No entanto, eu me pergunto: precisava ser assim?
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