Tony Goes

"Amor à Vida" faz o Brasil respirar aliviado com sua versão de Carminha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

É impressionante que uma novela como "Salve Jorge", que tratou de um crime tão grave como o tráfico de seres humanos, não tenha conseguido criar um vilão realmente antológico.

OK, Claudia Raia teve seus momentos como a chefona Lívia Marini. A simpática Wanda de Totia Meirelles roubou a cena diversas vezes. E até a Irina de Vera Fischer chamou a atenção, apesar de quase nunca se levantar da cadeira (ou talvez por isto mesmo).

Mas nenhuma delas atingiu aquele patamar do vilão-protagonista, por quem o espectador até torce. Aquele a quem amamos odiar. O novo paradigma do gênero, evidentemente, é a Carminha de "Avenida Brasil".

Aliás, a trama de João Emanuel Carneiro é o atual padrão de excelência da telenovela brasileira: é contra ela que todos os novos títulos são comparados. "Amor à Vida" nem tinha como escapar.


Ainda estamos na primeira fase da novela, estreia de Walcyr Carrasco no horário das 21h. Como costuma acontecer nesses períodos, as reviravoltas se acumulam com rapidez. Só quando a história chegar aos dias atuais e o ritmo se estabilizar é que poderemos fazer uma avaliação mais justa.

O que se viu até agora não trouxe nenhuma grande inovação. Lindas paisagens no exterior (o Peru é a bola da vez), Antonio Fagundes como o sóbrio patriarca, Paolla de Oliveira como a mocinha sensaborona. E não é possível que um ator do nível de Juliano Cazarré não tenha percebido que as tatuagens em seu corpo praticamente o condenam a personagens com um pé na marginalidade.

Tenho cá comigo que a Waldirene de Tatá Werneck irá causar celeuma. A maria-chuteira que se torna evangélica parece talhada sob medida para o talento cômico da atriz, que vem da MTV e faz sua estreia em novelas.

Mas ela ainda não apareceu. Portanto, os holofotes desses primeiros dias se voltam quase todos para o Félix de Mateus Solano: um vilão absolutamente egoísta, capaz das maiores maldades para satisfazer seus caprichos infantis.

Assim como a personagem de Adriana Esteves em "Avenida Brasil", Félix também esconde segredos da família. Mas não do telespectador, o que faz com que nos tornemos seus cúmplices.

O fato dele ser homossexual enrustido é um avanço considerável. Finalmente chegamos ao ponto em que os gays não precisam mais ser retratados na TV como almas puras e injustiçadas. Mas, talvez para compensar, o autor promete para a segunda fase um casal de rapazes maravilhosamente bem-comportado, vivido por Marcello Antony e Thiago Fragoso.

Mateus Solano está dando um banho como Félix. Cada viradinha de olhos, cada leve trejeito com as mãos, e as redes sociais se regozijam. Já temos um novo vilão para nos levar à loucura. Carminha vive!

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias