A complicada relação de Xuxa com seu próprio passado
Um milhão de reais pelos danos materiais, e mais cem mil pelos danos morais. Esta é a indenização que a Band terá que pagar a Xuxa. Podia ser pior: em 2009, a emissora havia sido condenada a desembolsar mais de quatro milhões. Recorreu, e conseguiu reduzir o valor. Pretende recorrer de novo.
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Tudo isto porque, em 2008, o programa vespertino "Atualíssima" exibiu mais de 70 fotos da apresentadora nua, publicadas em revistas masculinas no início da década de 80. O pretexto era o preço que essas revistas alcançam hoje em dia, disputadas por colecionadores a peso de ouro. Xuxa ficou furiosa, e com razão.
"Tenho que provar quase diariamente que o que eu faço hoje não tem nada ver com o meu passado. Além disso, o programa foi exibido no horário da tarde, horário que crianças assistem a televisão. Meu público é formado por crianças de zero a 8 anos e fiquei imaginando isso na cabecinha delas e das mães que compram meus CDs e DVDs. É desnecessário passar por isso 26 anos depois".
Estas frases fazem parte do depoimento que ela prestou à Justiça em 2009, pouco depois de entrar com uma ação contra a Band. Também citou a filha Sasha, que na época tinha 13 anos.
"Foi uma grande decepção para ela. Além de ser mãe, eu sou o ídolo dela; ela tem orgulho do meu trabalho. Queria ser a primeira a falar com minha filha sobre essas fotos e fiquei preocupada que ela ficasse sabendo por outras pessoas. Não sei até que ponto isso poderia traumatizá-la."
É uma situação complicada. Xuxa começou a carreira como a pioneira das periguetes: namorou um jogador de futebol (ninguém menos que Pelé), posou nua para inúmeras revistas, participou de um filme erótico.
Depois se tornou a rainha dos baixinhos, e passou a fazer de tudo para ocultar este passado. Tirou de circulação "Amor, Estranho Amor", o filme dirigido por Walter Hugo Khouri onde interpreta uma prostituta que inicia sexualmente um garoto menor de idade. Se pudesse, provavelmente compraria todas as revistas em que aparece pelada.
Compreensível, dado o tamanho do império que comandava. Sua imagem de fada loura, amiga das crianças, se chocava com as estripulias dos primeiros anos de fama --apesar das roupas provocantes que usava em seus programas infantis, exibidos de manhã.
O tempo passou e o mundo mudou. "Amor, Estranho Amor" pode ser facilmente encontrado na internet; comenta-se até que a apresentadora não irá mais pagar o valor anual cobrado pelos produtores para não lançar o filme em DVD.
Xuxa também não é mais a mesma. Comanda um programa nas tardes de sábado, mas não tem mais o mesmo apelo entre as crianças (e nem tantos produtos licenciados). Já existe toda uma geração que não a viu cantando "Ilariê".
Hoje, cinquentona e realizada, ela parece feliz ao lado do novo namorado. Não precisa provar mais nada para ninguém. Como eu mesmo disse numa coluna sobre seu 50º aniversário, está quase que acima do bem e do mal. Por isto mesmo, Xuxa deveria discutir sua relação com o próprio passado.
Veja bem, não estou defendendo a Band. Acho que o programa "Atualíssima" (que era apresentado por Leão Lobo) foi sensacionalista e irresponsável.
Mas as fotos da apresentadora nua, o filme, nada disso é segredo para ninguém. Além do mais, não são motivo de vergonha: quantas atrizes respeitáveis já não posaram para a "Playboy"?
Relaxa, Xuxa: sua história não pode ser apagada nem reescrita, e ajudou você a chegar até aqui. O passado passou. Bola para a frente.
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