Tony Goes

Mesmo com "backing vocal", Madonna tem voz menos poderosa que Lady Gaga

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"Informamos que, devido ao mau tempo, o show sofrerá um atraso", disse a voz no alto-falante. Como assim? "Sofrerá"? Eram 10 e 20 da noite. Oficialmente, Madonna já estava atrasada quase duas horas e meia: o horário prometido no ingresso eram 20 horas. Mas o show desta quarta, em São Paulo, foi seu terceiro no Brasil este ano, e a esta altura todo mundo já sabia que ele não começa mesmo na hora marcada.

Ainda assim, é de espantar que um espetáculo pensado para estádios, ao ar livre, não esteja bem preparado para a chuva. Que começou a cair durante o número de abertura, a dupla eletrônica brasileira Felguk, sem chegar a ser um aguaceiro como o que ensopou o público de Lady Gaga três semanas atrás.

Técnicos e faxineiros trabalhavam freneticamente pelo palco, tentando secar a passarela onde a diva se aproxima da plateia. Um novo forro foi aplicado ao piso. A chuva finalmente cedeu. Mas, e se não tivesse parado? O show teria sido cancelado e as milhares de pessoas despachadas de volta pra casa?

Às 11 em ponto, as luzes se apagaram e o Morumbi tremeu. Madonna sempre usou imagens religiosas ao longo de sua carreira: a princípio por provocação, hoje por convicção. A turnê "MDNA" é ainda mais carregada de símbolos que os espetáculos anteriores. Segundo a própria cantora, o show conta a jornada de uma alma atormentada, das trevas à luz.

Claro que na prática não é bem assim. O primeiro bloco realmente é mais barra pesada, com cenas de sangue e violência. Madonna "mata" seus bailarinos, aponta armas para os fãs, leva e distribui porradas. Mas a segunda parte já começa alegre e iluminada, com Madge vestida de "cheerleader" cantando a célebre mistura de sua "Express Yourself" com "Born This Way" de Lady Gaga.

Aliás, impossível não comparar as performances das duas. O show de Madonna é tecnologicamente muito mais moderno que o de Gaga, além de visualmente mais variado. Também não há interrupções para longos discursos: o ritmo é mais intenso e as coreografias, mais elaboradas. Mas a voz de Gaga é mais poderosa, disto não há dúvida.

Sim, dá para perceber que Madonna não canta em diversos momentos: os vocais que escutamos são pré-gravados, ou vêm de suas "back-ups". E daí? Não estamos na ópera. O que importa é o efeito.


Se em "Sticky and Sweet", seu show anterior, Madge pulava corda em cena, dessa vez ela anda - ou finge que anda - na corda bamba, ainda que a poucos centímetros do chão. Seu preparo físico continua invejável, mas tive a sensação de que os intervalos para troca de roupa estão mais longos que da outra vez.

Várias teorias circulavam entre o público: ela mergulharia numa banheira cheia de gelo, para ativar a circulação e eliminar o suor. Ou são simplesmente várias sósias que se revezam em cena, diz uma alucinada teoria de conspiração.

Muita gente se queixou do repertório. Por que tantas músicas do irregular álbum "MDNA", que deixaram tantos clássicos de fora? Cadê "Music", "Like a Virgin", "Into the Groove"? Madonna faz um rodízio entre seus sucessos de uma turnê para outra. Pelo menos ontem ela cantou "Holiday", que foi negada à plateia de terça. Disse que queria compensar o público pelo atraso causado pela chuva.

Às 12h46, pouco menos de duas horas depois do início, o show termina com um "mash-up" enérgico de "Celebration" cm "Give It to Me". Não há bis. O público, na média bem mais velho que o de Gaga, deixa o estádio com tranquilidade. Vejo marmanjos com lágrimas nos olhos. A "tia" ainda é poderosa.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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