Tony Goes

Rainhas da bateria: a realeza "fake" do samba

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em priscas eras, antes do advento da TV a cores, só o pessoal das próprias comunidades é que se apresentava nas escolas de samba. Depois, artistas como Rosemary começaram a frequentar as quadras durante os ensaios e a desfilar no chão, "dizendo no pé".

Veja galeria de fotos das rainhas de bateria do Rio

Isto começou a mudar quando a socialite Beki Klabin começou a sair como destaque na Portela, no começo dos anos 70. Hoje parece banal, mas na época foi um pequeno escândalo: como é que uma dama da sociedade carioca se misturava àquele pessoal do morro? A festeira Beki, que já era famosa por ter sido jurada do "Programa Flávio Cavalcanti" e namorado Waldick Soriano, não estava nem aí: ela mesma pagava por suas riquíssimas fantasias, e acenava para o povo do alto de um carro alegórico.

Sua entrada nos desfiles coincidiu com o momento em que a transmissão pela TV se popularizou, e de repente o Brasil inteiro quis dar uma de Beki e entrar de penetra numa escola carioca. Hoje há alas inteiras de turistas recém-chegados, que não conhecem o samba-enredo, têm pés de chumbo e causam desespero aos diretores de harmonia e evolução. Mas eles pagam caro para participar, e se tornaram uma fonte de renda importante para as agremiações.

O carnaval carioca é o maior evento deste país, e o desfile das escolas do grupo especial é a cereja do bolo. Todos os famosos (e candidatos a) querem estar lá, nos camarotes ou no asfalto, contanto que na mira dos fotógrafos. Esta demanda fez com que aumentasse a importância das rainhas da bateria.

O título é relativamente recente na história do samba, e costumava ser entregue às melhores e mais bonitas passistas da própria comunidade. Mas aí as modelos-e-atrizes começaram a usurpar seus tronos, e hoje rola uma guerra nos bastidores por esta posição de destaque. Volta e meia são coroadas moças "de fora": algumas porque são realmente chamarizes para a imprensa, outras por alguma razão misteriosa.

Crédito: Raphael Dias/TV Globo Ana Furtado como rainha de bateria
A atriz e apresentadora Ana Furtado, que será a rainha de bateria da Grande Rio no Carnaval carioca de 2012

Vejamos o caso de Ana Furtado, recém-empossada como rainha da bateria da Grande Rio. A apresentadora do "Vídeo Show" jamais se notabilizou por seu samba no pé, e está sendo rejeitada como uma intrusa por grande parte dos integrantes da escola. Uma feijoada estaria sendo organizada para aproximá-la do povão, assim como uma distribuição de panetones. E como foi que Ana chegou lá? É só ligar os pontos: qual foi a escola que se apresentou no "Big Brother Brasil" deste ano? E quem é mesmo o diretor do programa? Com quem ele é casado?

Pelo menos Ana Furtado é um nome razoavelmente conhecido. O mesmo não pode ser dito de Antonia Fontenelle, entronizada como rainha da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel --tida há muitos anos como a mais afiada do Rio de Janeiro. Como foi que Antonia chegou lá? De onde vem esse prestígio todo? Dããã: ela é a mulher de Marcos Paulo.

Houve um tempo em que as rainhas e madrinhas eram realmente mais famosas que seus príncipes-consortes. Pouca gente sabia que o marido de Luma de Oliveira se chamava Eike até ela desfilar, pela Tradição, com uma gargantilha gravada com o nome dele. Esta é a força que o reinado traz para sua ocupante: pode transformar uma anônima em estrela em questão de minutos, e até mesmo a quem orbita ao redor dela. Não admira que rolem pistolões de todos os tamanhos na disputa pelas coroas.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias