Thiago Stivaletti

Em 'Haja Coração', quem vai honrar (ou afundar) as lembranças de 'Sassaricando'? Confira as apostas

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Quando eu era pequeno, tinha um grande medo: o de que meu pai saísse para comprar cigarro e nunca mais voltasse, abandonando minha mãe e seus três filhos para todo o sempre. Quem me botou esse medo foi “Sassaricando” (1987), a novela do Silvio de Abreu em que o marido da feirante vivida por Lolita Rodrigues dava esse perdido eterno na família.

A Globo lançou esta semana na faixa das 19h uma releitura de “Sassaricando”. Melhor chamar de remake mesmo, tamanha a semelhança das histórias e personagens. Mas, para começar meu desespero, o pai da família Di Marino agora não sumiu, mas teria sido assassinado numa grande explosão —e o mistério de quem foi o autor do crime deve ser um dos motes da história. Francamente: explosão e assassinato a gente em qualquer filme por aí. Um pai que vai comprar cigarro e não volta mais é um pesadelo que pode acontecer a qualquer pobre criança até hoje.

Sempre caio nessa nostalgia de quem achava as novelas dos anos 80 muito melhores, e desta vez, mais ainda. Como comparar um elenco encabeçado por Paulo Autran, com uma parte do povo maravilhoso da "TV Pirata" (Cristina Pereira, Cláudia Raia, Diogo Vilella), além de Tônia Carrero, Eva Wilma, Irene Ravache, Maitê Proença e Edson Celullari, com um elenco bem mais jovem e inexperiente?

Mas nem tudo é nostalgia e pessimismo. Abaixo, minhas apostas para “Haja Coração”:

​​​Quem deve brilhar



Tatá Werneck é engraçada onde quer que vá. Sua mimada Fedora Abdalla, que na versão 2016 vive tentando aumentar sua base de fãs nas redes sociais e que tenta esconder que é uma “quase anciã” de 30 anos, já é de longe a coisa mais engraçada da novela. Para completar, Fedora só precisa mostrar uma boa química com Léozinho (Gabriel Godoy no papel que era de Diogo Vilella).

Grace Giannoukas, querida do público de "stand-up comedy" de São Paulo desde os tempos do “Terça Insana”, tem tudo para crescer se lhe derem grandes cenas como a rica e megera Teodora, mãe de Fedora. Espero que não morra tão rápido como a Teodora original...

A dúvida

Marisa Orth, que desde a série “Dupla Identidade” tem se dedicado aos papéis dramáticos, entrou para substituir Lolita Rodrigues como a mãe de Tancinha. Mas bem que podia ajudar a reforçar o humor da novela, já que é uma das raras veteranas do elenco...

Difícil superar o original

Mariana Ximenes tem uma missão gigante pela frente: reviver Tancinha, a grande personagem de “Sassaricando” —se as pessoas ainda lembram da novela de 1987, era por causa da feirante de Cláudia Raia que dizia “Olha os melão, me tudo frequinho!” e “Me divididinha feito uma laranja”. É preciso encontrar um caminho que não seja só imitar o jeito errado de falar. O abacaxi é tamanho que Mônica Iozzi e Ísis Valverde foram cotadas para o papel, mas caíram fora.

Alexandre Borges está há anos num piloto automático em seus papéis cômicos. Ele já desperdiçou uma bela chance de reviver o estilista Jacques Leclair no remake de “Ti-Ti-Ti”. E agora tem a dura missão de substituir Paulo Autran como o milionário Aparício VarellaAutran dava show, mas odiava tanto fazer novela que nunca mais fez outra depois de “Sassaricando”. Ele declarou numa entrevista o quanto odiava fazer TV: “Você está dando o melhor de si numa cena, e quando você vê eles estão filmando o pé da mesa”.

Uma das melhores coisas de “Sassaricando” era o trio das caçadoras de maridos vivido por Tônia Carrero, Eva Wilma e Irene Ravache. Rebeca, Penélope e Leonora agora estão nas mãos de Malu Mader, Carolina Ferraz e Ellen RocheMalu e Carolina tem o glamour e a beleza para substituir as divas dos anos 80 —resta saber se vão mandar tão bem no quesito humor. Já Ellen Roche... por favor.

Sem falar que Leonora era uma atriz ruim e canastrona que se considerava um grande talento. Agora, até a personagem foi rebaixada: é uma ex-BBB que foi a primeira eliminada em uma das edições do programa. Quem diria, vamos sentir saudade até das atrizes ruins.

E melhor nem comentar aqui de Malvino Salvador, Jayme Matarazzo, Cléo Pires...

Irene Ravache, Tônia Carrero e Eva Wilma em cena de "Sassaricando"
Irene Ravache, Tônia Carrero e Eva Wilma em cena de "Sassaricando" - Reprodução

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista, crítico de cinema e noveleiro alucinado. Trabalhou no "TV Folha", o extinto caderno de TV da Folha, e na página de Televisão do UOL. Viciou-se em novela aos sete anos de idade, quando sua mãe professora ia trabalhar à noite e o deixava na frente da TV assistindo a uma das melhores novelas de todos os tempos, "Roque Santeiro". Desde então, não parou mais. Mesmo quando não acompanha diariamente uma novela, sabe por osmose todo o elenco e tudo o que está se passando.

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