A bunda da Paolla x o sertão de Diadorim
Não dá pra negar: "Felizes para Sempre?" foi um sucesso. Pelo visual estiloso? Sim. Pelo elenco à prova de qualquer suspeita? Também. Mas principalmente pela bunda da Paolla Oliveira, o grande assunto das últimas duas semanas. Uma foliona até aproveitou a onda e saiu num bloco de Carnaval fantasiada com a bunda da Paolla - uma bunda de espuma e a fundamental cortina branca acoplada ao corpo. Afinal, bunda da Paolla sem cortina não é bunda.
Agora falando sério: tanto o autor Euclydes Marinho quanto o diretor Fernando Meirelles deram entrevistas dizendo estar um pouco irritados com o sucesso da bunda, que teria ofuscado outras qualidades da série. Meirelles chegou a dizer que, se soubesse o tamanho do barulho, teria cortado a cena na montagem. É um exagero, já que a série ajudou a dar uma boa levantada na carreira dos dois. Alguém se lembra de "Desejos de Mulher", uma novela das sete horrível escrita por Euclydes há 13 anos, em que uma psicopata Alessandra Negrini perseguia uma pobre Regina Duarte com uma faca na mão? E Meirelles, diretor de mão cheia desde "Cidade de Deus", vinha de um filme de recepção morna, "360".
"Felizes para Sempre?" incomodou muitos espectadores pelo excesso de citações. As mensagens de celular estampadas na tela lembraram "House of Cards". A abertura de imagens embaçadas lembrou "The Affair". E (a mais polêmica) a cena da morte do filho do casal Cláudio e Marília lembrou demais a do filme "Anticristo", de Lars Von Trier.
É o dilema da Globo hoje: buscar em suas séries um produto originalmente brasileiro ou seguir o padrão de sucesso das séries americanas? Os últimos resultados mostram que ela está mais para a segunda opção.
Vendo "Felizes para Sempre?", lembrei com uma certa nostalgia da época em que a grande fonte das séries globais eram os clássicos da literatura. A longuíssima "O Tempo e o Vento" em três fases e trilha de Tom Jobim, Bruna Lombardi linda como Diadorim em "Grande Sertão Veredas", Glória Pires cavalgando louca e suicida na direção dos tiros dos inimigos em "Memorial de Maria Moura".
Esse tempo não volta mais. Hoje, se a gente tem qualquer tempo livre, é mais fácil ir buscar uma nova série no Netflix do que ler um livro de mais de meio século atrás...
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