Renato Kramer

'O Semeador': emoção em tom didático

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O espetáculo "O Semeador", de Gabriel Chalita, com direção de Hudson Glauber, está em cartaz no Teatro Nair Bello (SP).

O trama trata do envelhecer, da solidão, do afeto e da falta dele, cada vez mais comum nas relações humanas. Visitar um amigo, saber se ele está bem ou precisa de algo é coisa do passado. Em "O Semeador", Rodolfo (Genézio de Barros), um velho professor aposentado, se prepara para passar mais uma noite de Natal sozinho, pois espera um filho que sabe que nunca virá.

De repente batem à porta e Rodolfo tem uma iludida grata surpresa de que seria Lucas, seu filho. Mas não era. Era Paulo (Thiago Mendonça), um vizinho do andar de cima que fora seu aluno e hoje também é professor. Paulo não quis deixar o velho professor passar o Natal tão só. Ele, por sua vez, dava um jeito de escapar da sua própria solidão.

O texto de Gabriel Chalita é envolvente e discute um conteúdo muito oportuno: a difícil arte de envelhecer bem, as difíceis relações entre jovens e velhos, as grandes possibilidades de criar ricos laços entre as gerações, desde que se abra o coração para tal, tanto de uma geração quanto da outra. Especialmente, a grande importância da presença de um bom professor na formação do indivíduo.

Por vezes, talvez por Chalita ser ele mesmo um professor e a história tratar desse mesmo universo, o texto resvala por caminhos um tanto didáticos. O que vale é que os atores Genézio (o Oswaldo de "Verdades Secretas", Globo - 2015), com sua experiência e domínio cênico e Thiago (que se destacou como o alcoólatra Felipe de "Em Família", Globo - 2014), com sua garra e carisma, conseguem envolver emocionalmente o espectador, deixando o tom didático em segundo plano.

A cenografia de Chico Spinosa e Kimiko Kashiwaya junto à iluminação de Rodrigo Alves e a trilha de Fábio Sá criam uma ambientação aconchegante para o desenrolar da trama. No final, o jovem Paulo a duras penas consegue driblar o mau humor do velho professor e resgatar a chama viva que ainda ardia em seu peito, abafada por toneladas de amargura.

Não há como parar o tempo para evitar o envelhecimento. Mas há como não nos permitirmos parar de sonhar e de aspirar o novo, dia após dia, para que a morte, que é inevitável, não nos encontre já mortos ainda em vida. "Você não pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas você pode começar agora a fazer um novo fim" (Chico Xavier).

"O Semeador" fica em cartaz de sexta a domingo no Teatro Nair Bello, Shopping Frei Caneca (SP), até dezembro.

Crédito: Francisco Junior/Divulgação Genézio de Barros e Thiago Mendonça em "O Semeador", de Gabriel Chalita

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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