"Vocês estão me deixando emocionado", disse Stênio Garcia ao receber os depoimentos das atrizes Maria Isabel de Lizandra e Arlete Montenegro e do diretor Antunes Filho no "Persona em Foco" (TV Cultura) desta terça-feira (14).

Lizandra e Montenegro relembraram sua parceria em "A Muralha" (1968), na extinta TV Excelsior. Mas muito mais homenagens ainda foram feitas a Stênio. Foram mostradas cenas de algumas de suas inúmeras novelas, filmes e de dois teleteatros que realizou na própria TV Cultura: "A Beata Maria do Egito" e "As Rosas Rubras da Morte", ambos em 1975.

O ator recebeu também o depoimento de um ex-funcionário da extinta TV Tupi, para quem Stênio prometera dar a sua moto caso os quatro meses de pagamento atrasado fossem acertados. Não foram e José Maria Lopes, atualmente na TV Cultura, não ganhou a tão desejada motocicleta. "Você é muito rico no que faz. Parabéns! Um beijo pra você", despediu-se Lopes.

"Esses depoimentos enchem a alma da gente de alegria, ternura. Que pena que eu não paguei a aposta!", comentou o ator.

Quanto a sua percepção sobre o uso da técnica e da emoção no ato de interpretar, Garcia explicou: "A técnica é tudo aquilo que a gente aprende como execução exterior de uma ideia. E a emoção é aquilo que vem naturalmente. Você está sempre buscando o subtexto daquilo, 'o que é que quer dizer isso?'. Aí entram todos os recursos culturais que você tem para desenvolver esses aspectos da representação".

Mas faz uma ressalva: "O ideal é quando você descobre que o ator, com a técnica, conseguiu iludir através da emoção daquele instante. Ele procurou quase que esquecer a representação e viajou na identificação daquele personagem. Eu consegui isso algumas vezes, não foi sempre, não", confidencia Stênio. E afirma que na televisão, principalmente, o ator tem que recorrer seguidamente à técnica: "É ela que soluciona de imediato um momento de expressão".

Em seguida dá um exemplo concreto de como faz uso da técnica com maestria. Logo após uma cena da novela "De Corpo e Alma" (Globo - 1992), em que emocionou o Brasil exigindo um coração para salvar a filha (Cristiane Oliveira), foi contar uma piada para um 'cameraman' e caiu na gargalhada.

Cristiane vendo tudo lhe perguntou, espantada: "Stênio, como é que você consegue isso? Você tava em prantos aqui pedindo o coração pra filha e de repente você tá contando piada?". O ator respondeu: "É, eu desliguei. Eu desliguei a emoção e aqui eu tô vivendo a minha vida", completou.

Essa é a maneira do ator se preservar da carga emocional dos personagens, explica Garcia. "Se você for carregar tudo você se desgasta de uma tal maneira que quando chega o fim do dia você tá um bagaço!", argumenta.

Para encerrar os depoimentos com chave de ouro, o colega de tantos trabalhos: Antônio Fagundes. "Você sabe, né? Minhas filhas chamam você de Stênio Gracinha", confidencia o ator. "E não é à toa, porque você é meu querido irmão, meu querido amigo. Tanta coisa que a gente já fez junto, tanta novela, peça de teatro, 'Carga Pesada' ( Globo - 1979/1981 - 2002/2007), só 'Carga Pesada' já é uma vida! Eu costumo brincar que você é o meu casamento que mais deu certo!", declara Fagundes.

E "O Dono do Mundo" (Globo - 1991) termina o seu depoimento com uma bela declaração: "Tudo de bom pra você. Você merece todas as homenagens do mundo, você sabe disso. Te amo!".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"