Christiane Torloni está divina como Maria Callas em 'Master Class'
O espetáculo "Master Class" (Terrence McNally) , de José Possi Neto, no qual a atriz Christiane Torloni vive a divina Maria Callas, fez uma sessão especial para convidados nesta quarta-feira (10).
Um grande desafio montar um espetáculo que já fora tão bem realizado por Marília Pêra, sob a competente direção de Jorge Takla em 1996. Mas como a própria Callas diz no texto, a palavra chave é "coragem".
Coragem, garra e sensibilidade é o que a atriz Christiane Torloni mostra desde que pisa em cena no Teatro das Artes (SP). Muita classe na "Master Class" de Torloni. Postura, elegância de gestos, voz muito bem trabalhada e muita segurança tornam a Callas de Torloni uma verdadeira obra de arte. Sem falar da emoção que, na maior parte do tempo muito contida pelo excesso de disciplina profissional, transborda ao mexer com as coisas do coração.
Na peça, o autor mostra uma Callas humana, até vulnerável por vezes, especialmente quando se trata de sua relação com Aristóteles Onassis, mas que não perde a pose e o devido respeito pela arte do "Bel Canto". "Nunca tive rivais. Como ter rivais se elas não fazem o que faço?", é uma de suas afirmações bombásticas, porém sempre recheadas de muito charme e "noblesse". Torloni veste Callas como uma luva.
Deliciosamente sarcástica e dona de uma refinada ironia, Callas faz de sua aula magna um grande espetáculo, colocando-se no lugar do aluno para mostrar-lhe o que deseja dele, outras vezes dispensando-o mesmo antes de ouvi-lo. "Ela não tem 'look', a coitadinha!", diz Callas sobre a jovem sonhadora Sophie de Palma (Bianca Tadini), que apesar da mestra consegue mostrar todo o seu talento vocal.
O ambicioso e egocêntrico Anthony Candolino (Leandro Lacava), Maria manda embora sem dó nem piedade, já pela falta de postura e modéstia do belo jovem. Mas se mostra magnânima e, aceitando suas desculpas, resolve ouvi-lo cantar e não se arrepende: Tony dá um show.
Mas de início, não é tão generosa com a insegura Sharon Graham (Julianne Daud), que chega chegando com um vestido longo extravagante. "Você vai a algum lugar depois daqui?", pergunta-lhe com sua ironia branda La Divina. E lhe dá um conselho: "Nunca use uma roupa dessas antes da meia-noite, especialmente numa aula de canto". A aluna se vai magoada. Mas volta e solta a sua voz cristalina de soprano. É ovacionada em cena aberta.
A cenografia de Renato Theobaldo é um espetáculo à parte, valorizada pela luz de Wagner Freire. Os figurinos de Fabio Namatame mantém o seu padrão de bom gosto e qualidade. O espetáculo ainda conta com Thiago Rodrigues (Emmanuel Weinstock) ao piano e tem a direção musical do Maestro Fabio G. Oliveira. O acabamento final de "Master Class" tem as mãos habilidosas de José Possi Neto.
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