Renato Kramer

'O Pequeno Príncipe' continua cativando as novas gerações

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O retorno ao topo da história de amor, amizade e solidariedade que nos traz "O Pequeno Príncipe" pode ser um sopro de esperança em meio ao horror instaurado nos dias de hoje, quando vemos crianças mortas nos telejornais e choramos baixinho de dor, tristeza e vergonha por sermos igualmente humanos e não termos condições de levantar a bunda do sofá e tomarmos uma atitude que impeça definitivamente esse massacre.

O "Jornal do SBT" desta quinta-feira (3) fez uma matéria ressaltando a importância da volta às manchetes da história do principezinho que amava uma rosa única no mundo, porque aquela era a sua rosa.

"O verdadeiro amor nunca se gasta, pois quando mais se dá, mais se tem", destacou do livro um estudante ainda menino, entrando em contato com a história do principezinho pela primeira vez.

"O Pequeno Príncipe" (Antoine de Saint-Exupéry) já virou filme, peça de teatro, desenho animado. De uma maneira ou de outra ele sempre está na cabeça de crianças, jovens e adultos", declarou a repórter Lívia Raick. Em uma escola de São Paulo, o clássico de Saint-Exupéry virou motivo de estudo e análise.

"Para que eles entendam que para ter amigos eles precisam 'cativar' os amigos", diz a professora Cláudia Regina de Freitas. "Às vezes você tem que respeitar o outro, não pensar só em si mesmo", observa o estudante Gabriel Ayres, 9.

No cinema, "O Pequeno Príncipe" acaba de ganhar nova versão, sob a direção de Mark Osborne, exibido fora da competição no Festival de Cannes 2015. Das várias adaptações para o cinema, a mais conhecida ainda é a de 1974: "O Pequeno Príncipe" de Stanley Donen, que trazia Gene Wilder como a raposa e Bob Fosse como a serpente.

Assisti a versão de Osborne no final de semana. Confesso que estava esperando emocionado (o 'principezinho' sempre me emociona, desde que o li pela primeira vez aos 15 anos quando cursava a Aliança Francesa, ainda em Porto Alegre) reencontrar aquela figura singela com seus valores tão simples, tão generosos, e por isso mesmo tão essenciais.

Crédito: Divulgação O Pequeno Príncipe

Mas há uma nova visão da história do principezinho original, possibilitando vôos diferenciados que enriquecem o espetáculo cênico mas desviam um pouco a atenção do principal. Desta feita, a protagonista é uma menina dedicada aos estudos e muito obediente a uma mãe cheia de regras. É quando se mudam para uma casa nova e se tornam vizinhos de um senhor idoso, solitário e extravagante que tudo tem início.

Pois esse tal senhor exótico ninguém mais é do que o aviador que teria encontrado o "Pequeno Príncipe" no Saara, quando dá uma pane no seu avião no tempo em que trabalhava com os correios. Depois de um primeiro estranhamento de perceber a história clássica tão querida um tanto 'remexida', confesso que começamos a nos acostumar com a ideia.

Até o ponto em que a menina, que se torna dona da história, sai em busca do "Pequeno Príncipe" e o encontra trabalhando como faxineiro em uma grande empresa com uma postura oposta a que ele próprio pregava na história original, como se tivesse sucumbido aos mais fortes e passado por uma espécie de lavagem cerebral. Aí, sinceramente, não gostei. Travou tudo.

Mesmo que o tal "Príncipe da Limpeza" retomasse as suas ideias de então, que são as que nos encantam no livro, não sei. Não digeri bem essa reviravolta. Na hora cheguei a desejar apenas o nosso "Pequeno Príncipe" original, como o conhecemos e aprendemos a amar.

Apenas um surto emocional saudosista? Ou fidelidade ao que a história pura e simples propõe? Não sei ao certo. Saí do cinema com sentimentos dúbios: contente por ter reencontrado o principezinho, contrariado por ter visto que caminho tortuoso o novo roteirista sugeriu que ele tivesse tomado.

Como já completaram 70 anos de morte do autor, o livro agora pode ser livremente editado. Só no primeiro semestre desse ano foram vendidas 159 mil cópias no Brasil, um aumento de 123% em relação ao mesmo período do ano anterior. "O Pequeno Príncipe" já vendeu mais de 80 milhões de cópias no mundo todo e foi traduzido para 180 línguas.

"O segredo desse sucesso todo? "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", encerra a repórter.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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