Renato Kramer

'Hoje parece que houve um acirramento da intolerância', diz o ator Sérgio Mamberti

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"Nós tínhamos uma previsão de terminar a temporada agora no final de julho, mas como a peça está indo muito bem e nós tínhamos uma continuidade do patrocínio, então nós vamos conseguir levar a peça até o final de outubro", anunciou o ator Sérgio Mamberti no "Metrópolis" (Cultura) da última segunda-feira (27).

"Como é ser um ator como Sérgio Mamberti e ficar mais de dez anos fora dos palcos?", perguntou a apresentadora Adriana Couto. "Na verdade a minha vida de militância na política cultural vem desde meus primórdios. O primeiro cargo público que eu aceitei foi na Comissão Estadual de Teatro", contou.

Adriana relembrou que Sérgio ficou afastado dos palcos por participar do Ministério da Cultura, onde exerceu cargo de secretário em três secretarias diferentes e foi presidente da Funarte. "Foi um trabalho muito importante para mim, porque de uma certa maneira eu pude prestar serviços no sentido de institucionalização do projeto cultural brasileiro. Criando novas condições na Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, que foi um trabalho maravilhoso. Nós passamos a trabalhar com um conceito muito mais largo de cultura.", relatou o ator.

Mas acrescentou: "Mas isso me impedia de continuar atuando, porque tem o código de ética do servidor, que a gente tem que cumprir rigorosamente. E não era um trabalho apenas burocrático, de escritório. A gente foi a campo mesmo".

Por que voltar como o "Sr. Green"? "Eu me encantei com essa peça porque ela trata exatamente da aceitação do outro. Por ela trabalhar com a questão da intolerância. Hoje, infelizmente, parece que houve um acirramento dessa intolerância. E a peça discute isso não em termos panfletários", argumentou. A trama se desenvolve a partir da relação de dois personagens muito diferentes que são colocados frente a frente por causa de um acidente, literalmente.


"É uma peça em que o público ri muito mas se emociona também, e nós lá no palco também", assegurou Mamberti, que em 2016 completa 60 anos de carreira. "Profissionalmente um pouquinho menos, porque eu comecei a minha carreira profissional em 1962, mas comecei a fazer teatro em 1956", lembrou.

"Quando eu pensava em fazer teatro eu pensava em dirigir. Eu achava que ser ator era uma coisa de grande responsabilidade. Mas eu fui fazer uma peça na Aliança Francesa de Santos, mais para exercitar o meu francês. Na hora de eu entrar em cena eu fiquei quase paralisado e pensei: 'Como é que eu vou entrar em cena?' Aí o diretor me deu um pontapé no bumbum e eu entrei e logo na primeira fala o público reagiu e aí o bichinho do teatro me mordeu", contou o Dr. Victor, do "Castelo Rá-Tim-Bum" (Cultura).

Falando no "Castelo", o espetáculo "Visitando o Sr. Green", tem direção também do ator Cássio Scapin, que vivia o Nino no seriado da TV Cultura. "O Cássio fez um trabalho maravilhoso de harmonização comigo e o jovem talentoso ator Ricardo Gelli. Ele faz um trabalho de direção, vocês precisam ver. Ele já aprendeu, é bruxo formado."

Sobre momentos marcantes da sua longeva carreira, o ator destacou: "Claro, o 'Rá-Tim-Bum' tem um papel especial na minha carreira, porque formou gerações. Mas em teatro, por exemplo, eu fiz 'O Balcão', de Jean Genet, que foi considerada uma das grandes montagens do teatro do século passado. E o próprio Genet, que veio ao Brasil assistir a peça, foi me dizer que tinha visto montagens ao redor do mundo, mas quem tinha feito o papel do juiz como ele tinha imaginado era eu", comemorou o grande ator.

Para encerrar, Sérgio Mamberti falou dos seus projetos: o ator pretende viajar pelo Brasil com a peça "Visitando o Sr. Green" (em cartaz no Teatro Jaraguá, em São Paulo, até final de outubro), e quer fazer o "Falstaff" de William Shakespeare. "Eu sou cinéfilo: quero dirigir cinema. Quero também promover um festival de leituras, porque eu gosto muito de leitura dramática, com um panorama histórico da literatura dramática brasileira", concluiu.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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