"Esse é o Carlos Alberto que eu conheço, que é meu amigo, que é meu querido companheiro de muitos anos atrás", declarou o cantor Roberto Luna, 85, ao receber a visita surpresa de Nóbrega proporcionada por Otávio Mesquita em seu "Okay, Pessoal!" (SBT) da última terça-feira (14).

"Ele fazia o maior sucesso em São Paulo. O Roberto Luna era o dono das mulheres de São Paulo – um vozeirão maravilhoso!", declara o homem da "Praça" ainda secando as lágrimas da emoção do reencontro 30 anos depois.

"Nós formamos um grupinho pra ganhar uma grana em circo", relembra Carlos Alberto. "Golias, eu, ele, Canarinho, Juca Bofetada – e a gente ia fazer show rem circo. Quando dava um dinheirinho, a gente jantava depois numa churrascaria. Quando não dava a gente ia pra casa. Isso era 1954!". "Eu não era nem nascido", observa Mesquita.

E no embalo, Carlos Alberto faz revelações: "Nós éramos muito amigos. E a gente tinha um apartamento (muitos risos), porque naquela época não tinha motel, não é?", conta com ar de adolescente. "Naquela época não tinha camisinha?", pergunta Otávio. "Que camisinha, era gonorréia!", retruca Carlos Alberto. Gargalhada geral.

Roberto Luna, que mora no chamado "Palacete dos Artistas" (Av. São João, SP), comenta sobre a oportunidade recebida: "Esse foi um projeto muito especial que a prefeitura fez para brindar a nós artistas. Temos 50 colegas aqui em 50 apartamentos. São artistas do circo, de teatro, da televisão, do rádio... Tá todo o mundo aqui", diz o cantor.

Roberto Luna, cujo nome de batismo é Valdemar Farias, nasceu em Serraria, na Paraíba, e mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1945. Começou a trabalhar no Teatro de Revista, e em 1948 já era crooner em dancings e boates do Rio. Em 51 estreou na Rádio Guanabara, mais tarde passando pela Globo, Mayrink Veiga e Nacional.

Luna, que ainda faz os seus shows eventuais pela noite paulistana, gravou o seu primeiro disco em 1952. Entre os seus maiores sucessos estão "Molambo" (Meira e Augusto Mesquita), "Relógio" (Cantoral, versão Nely Pinto), "Nunca" (Lupicínio Rodrigues) e "Castigo" (Dolores Duran).

"Ele faz parte da história da minha vida!", diz Carlos Alberto emocionado. "Não vamos chorar", observa Luna sempre sereno com sua voz grave e sonora. "Os conselhos que ele me dava, as coisas que ele falava pra mim...a humildade dele. Sim, porque ele era o mais conhecido de todos nós na época! E ele sempre simples, nunca faltou a um show, nunca deixou de fazer um trabalho com a gente!", relembra Nóbrega com a voz embargada.

Antes de partir, Nóbrega ainda faz uma rápida visita ao também cantor Raimundo José, recebeu abraços de artistas queridos como Hilton Have e dá um pequeno depoimento sobre a vida artística:" É complicado falar...acho que existe um pouco de falta de pensar no futuro. Porque o sucesso é uma coisa muito boa, mas ele acaba. Então você tem que estar preparado...eu, por exemplo, te confesso – eu não tô preparado pra parar. No dia que eu tiver que parar eu vou sofrer muito, porque é a minha vida!", desabafa o apresentador de "A Praça É Nossa" (SBT).

E despediu-se ainda mais emocionado: "Eu não sabia que existia o "Palacete dos Artistas", é um trabalho muito bonito, mas realmente rever o Roberto Luna...duvido que até o fim do ano aconteça alguma coisa melhor pra mim!"

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"