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'Sou Deus naquele universo que criei', diz Silvio de Abreu sobre escrever roteiros

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"De onde vem a inspiração? Não tenho a menor ideia!", afirmou o autor de novelas Silvio de Abreu no "Ofício Em Cena" (Globonews) da última terça-feira (7).

"Guerra dos Sexos" (1983), "Cambalacho" (1986), "Rainha da Sucata" (1990), "A Próxima Vítima" (1995), "Torre da Babel" (1998-1999),"As Filhas da Mãe" (2001-2002), "Belíssima" (2005-2006), "Passione" (2010-2011) são alumas das diversas novelas escritas por Silvio de Abreu —todas para a Rede Globo.

A apresentadora Bianca Ramoneda questiona o autor sobre se já teria conseguido identificar previamente a opinião do público sobre um trabalho, já que Silvio já vivenciou desde o extremo sucesso —de fazer literalmente o país parar paraver sua novela, até o desprazer de ter que encerrar um trabalho antes do tempo.

Crédito: Reprodução/Instagram/guilhermina Ary Coslove e Silvio de Abreu em gravação de "Guerra dos sexos" da TV Globo
Ary Coslove e Silvio de Abreu em gravação de "Guerra dos sexos" da TV Globo

"Não. Ainda não faço a menor ideia!", responde prontamente. "A gente faz o melhor que a gente pode e reza pra dar certo, só isso!", conclui sem melindres. E argumenta: "Porque novela depende de tudo: o autor é importante, o diretor é importante, os atores são super importantes – a relação do ator com o personagem é mais do que importante. Uma boa escalação de elenco é mais de 90% de sucesso", esclarece Abreu.

Mas ressalta: "Mas também, um elenco maravilhosos não garante uma boa audiência! Se o público não se identificar com aquela história, não adianta você ter um elenco extraordinário. Veja "As Filhas da Mãe" por exemplo: tinha um elenco extraordinário mas o público não se identificou com a história. Culpa minha? Culpa do elenco? Culpa de uma série de coisas que aconteceram, inclusive da concorrência", admite o autor.

Ramoneda então quis saber como um autor consegue continuar escrevendo quando percebe que aquela história não está se comunicando com opúblico. "É a pior coisa do mundo!", retruca Abreu. "É horrível, mas tem que fazer. Mas você vai esperando que vai inventar uma coisa aqui, reconta a história, vê se precisa de mais dramaticidade, você vai tentando.

Mas é engraçado, quando uma novela dá certo, você pode fazer a maior besteirada que todo o mundo adora! Faz uma coisa que as vezes não tem pé nem cabeça, todos dizem: que maravilha! Agora, quando eles não gostam, qualquer coisa é ruim", observa o experiente dramaturgo.

Crédito: Alessandro Shinoda/Folhapress José Carlos Honorio autografa livro para o autor de novelas Silvio de Abreu
José Carlos Honorio autografa livro para o autor de novelas Silvio de Abreu

E acrescenta: "Existe uma comunicação entre público e novela que faz com que eles aceitem ou rejeitem —uma coisa que é independente da qualidade daquilo. Qualidade e sucesso não tem nada a ver uma coisa com a outra. Tem muita coisa ruim que faz sucesso e muita coisa boa que não faz sucesso", afirma Silvio de Abreu.

"Escrever novela é uma coisa muito difícil, muito complicada. Novela tem que ser uma história que tenha uma possibilidade de se renovar durante os cento e tantos capítulos em que ela vai ter que ser contada", declara o autor. E argumenta sobre a longevidade do gênero no Brasil: "É porque cada autor que chega traz um universo novo. Uma novela minha é diferente da novela do Gilberto (Braga), que é diferente da do Aguinaldo Silva, então cada unuverso é que faz com que quando termine uma novela e comece outra, o interesse do público renove".

Fórmulas? "Eu acho que a novela tem que ir se renovando. Alguns truques do 'folhetim' já não servem mais", garante Abreu. Mas adverte: "A novela só vai se comunicar com o público através do ator. É um diálogo sempre entre o autor e o ator. A partir do que o ator me dá eu devolvo pra ele. Então eu começo a fazer uma novela sabendo que se eu não tiver o ator certo no personagem certo, eu não tenho a minha comunicação", explica.

"Eu gosto de me envolver com tudo. Acho que o meu lado diretor é até mais forte do que o do autor", confidencia Silvio. "Minha formação é muito mais cinematográfica do que literária. Quando eu era moleque e ia ao cinema e gostava de ver aquilo é porque eu queria ir para o mundo da fantasia. A minha realidade não era bonita: eu era pobre, morava em lugar feio, com a família num cortiço —e quando eu ia no cinema tudo era lindo, era uma piração", relembra.

E encerra desabafando: "A minha vida é muito comum: eu sou casado há 40 anos com a mesma mulher —gosto dela, gosto da minha filha, mas eu não tenho uma vida assim de baladas e de grandes feitos. Não, é simples, né? Mas quando eu entro para escrever, que eu me fecho no escritório, a minha cabeça vai longe. Então eu posso matar quem eu quiser, posso ir pra cama com quem eu quiser, posso beijar quem eu quiser, posso elogiar quem eu quiser: eu sou Deus! Sou Deus naquele universo que eu criei, e isso dá um prazer muito grande", declara Silvio de Abreu.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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