Renato Kramer

Juca de Oliveira brilha em versão solo para o "Rei Lear" de Shakespeare

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O ator Juca de Oliveira, 80, consegue uma façanha inédita: transportar para um palco vazio todo um universo de personagens –e até mesmo locações cenográficas em que as diversas situações acontecem, absolutamente sozinho em cena, entre narrando e vivendo ao mesmo tempo o drama do "Rei Lear" (William Shakespeare).

O desafio de viver um "Rei Lear" dentro do contexto sugerido pelo genial autor já é bastante considerável. Retirá-lo do seu habitat natural e apresentá-lo só, sem os recursos costumeiros dos grandes figurinos e de uma cenografia pomposa –sem falar do apoio incondicional de um grande elenco, é tarefa hercúlea.

Mas sir Juca de Oliveira tira de letra. Com a ajuda de um texto que lhe flui da boca com a maior naturalidade, muito bem adaptado por Geraldo Carneiro, e pela direção sensível do talentoso Elias Andreato, Juca se impõe como o venerando rei e ainda consegue transformar-se em suas três filhas, seus genros, seu bobo da corte e, quando pensamos que já seria o suficiente, nos faz vislumbrar os seus cem súditos a sua volta.

A sua narração não conta apenas a história do velho rei impulsivo que é traído pela ganância e o desprezo de suas duas filhas mais velhas. Juca é o rei, mas é também todos os outros envolvidos no seu drama, argumenta com ele próprio e defende as ideias de todas as personagens com absoluta propriedade –e, como se não bastasse, ainda tece comentários ácidos e irônicos na pele do seu próprio bobo da corte.

E a emoção vai num crescendo tal que explode no encontro do velho e vilipendiado rei com a sua filha mais moça –a única que lhe fora sincera e que fora renegada por ele num ato tresloucado. É ela quem vai resgatar o pai que já vive praticamente na mendicância –e ao vê-la que chega para acolhê-lo, o Rei Lear de Juca de Oliveira consegue compartilhar com o público toda uma comoção avassaladora.

Tudo isso sozinho em cena, sem recursos cenográficos, nem roupas pomposas, nem jogo de luzes mirabolantes. No "Rei Lear" de Juca de Oliveira o teatro se resume no ator. Mas que ator! Comovente.

"Rei Lear" fica em cartaz no Teatro Eva Herz (SP) até 9 de agosto. Imperdível.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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