Renato Kramer

'Eu não reconheço aquele Tim Maia do livro e do filme', diz Eduardo Araújo

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Em tempos de comemorações dos 50 anos de Jovem Guarda, Eduardo Araújo, um dos expoentes do que se tornou um grande movimento da música pop nacional, foi entrevistado por Danilo Gentili no "The Noite" (SBT) da última segunda-feira (15).

"Meu grande sonho era cantar no programa "Hoje é Dia de Rock" (TV Rio, Canal 13 - 1961-1965), apresentado pelo Jair de Taumaturgo. Eu não sabia como ia chegar até ele, então resolvi me anunciar como o rei do rock de Minas Gerais", conta Eduardo, que teve por muito tempo a alcunha de Goiabão.

"Depois ele veio me perguntar quem tinha me dado esse título de 'rei do rock'. Eu expliquei que como não tinha nenhum outro por lá, era só eu mesmo!". Danilo se diverte com a estratégia do cantor.

O cantor Sérgio Reis tem presença marcante na carreira de Araújo. "Sérgio Reis é meu amigo de muitos anos, meu irmão – começou comigo também fazendo 'rock and roll' e depois foi para a música sertaneja", relata o dono do hit "O Bom".

"Ele era roqueiro também, o Sérgio?", questiona Danilo.

"Roqueiro. Gravava uns rocks dele lá, era conhecido com outro nome que eu não vou lembrar agora – depois ele mudou pra Sérgio Reis, aí já foi a época da Jovem Guarda (na qual estourou com a canção 'Coração de Papel')", relata Eduardo.

"Você é uma esquina entre o rock e o sertanejo, não?", quis saber Danilo. "Não, eu sou uma esquina entre o rock e o country – que é o pai do rock", retruca Araújo.

Outro cantor com quem Eduardo Araújo conviveu muito e não o reconhece nos livros que falam dele, nem nos filmes, é o saudoso Tim Maia. "Eu não conheço aquele Tim Maia daquele livro de forma alguma. O Tim Maia que eu conheci era um cara maravilhoso, morou comigo por mais de um ano na suite presidencial do Hotel Danúbio, contratado pela TV Excelsior – tinha bastante dinheiro, se vestia muito bem e nunca foi mendigo. Nunca vi o Tim Maia mal vestido!", afirma.

"Todo o livro fala o contrário, não é? O filme também!", observa Gentili. "Ora, diz que o cara não tinha lugar onde dormir, foi dormir numa poltrona...". "Ficou pedindo caridade para todo o mundo", acrescentou Danilo. "Não é verdade. Aquilo não é verdade! Quem contou, realmente, não contou a verdade", decretou o cantor.

Crédito: Reprodução/SBT Danilo Gentili entrevista o cantor Eduardo Araújo no "The Noite", do SBT
Danilo Gentili entrevista o cantor Eduardo Araújo no "The Noite", do SBT

E acrescentou: "O Tim Maia aqui em São Paulo, graças a Deus, ele teve uma guarida comigo. Nós montamos a primeira banda de soul do Brasil e eu gravei o disco "A Onda é o Boogaloo" – com produção do Tim Maia. Esse é o primeiro disco de soul do Brasil. Todas as versões são do Tim. Ele era o produtor, diretor da banda, ele é que fez todos os arranjos", conta Araújo.

Eduardo aproveita para desabafar: "Essas são as histórias do Tim que tem que botar num livro, não essas coisas ruins que só falam de drogas, disso e daquilo... Esse cara tinha um coração maravilhoso, um pai de família maravilhoso, gente boa!".

"Como produtor, ele chegava no horário, tava sempre lá ou faltava também?", cutuca Danilo.

"Essa é também uma história mal contada", replica Eduardo de imediato. "Precisa perguntar primeiro se os caras pagavam ele antes como ele exigia. Não paga, não vai. Naquela época era assim: se você não recebia antes, os caras fugiam com o dinheiro. Então tinha muito disso. O Tim ficava: tô esperando o meu dinheiro aqui, se não vier o dinheiro eu não vou. E o dinheiro não ia!", esclarece o amigo Araújo.

O cantor confessa que o primeiro ritmo que mexeu mesmo com ele foi a música de Luiz Gonzaga - o baião. "A gente depois fez uma adaptação do soul para o baião", afirma o cantor. Suas influência no rock foram Bill Halley, Little Richard, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis.

"Você é daqueles que fica puto por ser sempre lembrado pela música "O Bom", ou você gosta, tem orgulho do "Bom"?", perguntou Gentili. "Não, eu gosto. O único problema é que eu estou sempre variando os arranjos. Essa música é uma música eterna – ela veio pra ficar mesmo. Amanhã eu já não vou estar mais aqui, mas ela vai estar para contar a minha história", declarou Eduardo.

"Foi você que compôs?". "A música é composição minha. Foi a primeira composição que eu fiz junto com o Carlos Imperial. O Imperial me deu um drible não sei porque, só saiu o nome dele e até hoje!". "Que sacana!", comenta Danilo. "Ele ficou naquela: não, na próxima edição a gente muda e foi, foi, ficou.", entrega o cantor.

"Essa música (O Bom) na verdade era um protesto na época: era proibido ter carro vermelho, como diz a letra. Vermelho eram só os carros dos bombeiros. Depois dessa música foi quebrado esse tabu, começou a aparecer muito carro vermelho por aí", conta.

Sobre o programa homônimo que apresentou na TV Excelsior, Eduardo conta que era campeão de audiência – e sua colega de palco, a talentosa cantora Silvinha – com quem se casou em 1969, teve um casal de filhos e ficou junto até a sua morte em 2008.

O cantor Eduardo Araújo fará parte das comemorações dos 50 anos da Jovem Guarda na Virada Cultural 2015, apresentando-se no Palco São João, dia 20 (sábado) às 22:00 horas.


Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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