Renato Kramer

'Eu nunca fui engraçado, eu era escada', diz Dedé Santana

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"Fui abençoado com o dom de ser palhaço", declarou o 'trapalhão' Dedé Santana para Lázaro Ramos na edição do "Espelho" (Canal Brasil) desta segunda-feira (27).

"Eu me considero de circo ainda. Eu sou da sétima geração circense", continuou Dedé, "minha família é toda de circo —meu pai foi um grande comediante do cinema e que também veio do circo. A minha mãe foi considerada a maior contorcionista da América do Sul".

O comediante lembrou das suas origens com respeito e muito carinho: "Quando eu vejo um circo assim me dá uma felicidade tão grande! Foi de um circo que eu saí para andar por esse mundo aí. Foi onde eu presenciei coisas lindas e coisas também que muitas vezes encheram meus olhos de lágrimas".

Sobre a relação com os colegas 'trapalhões', Dedé conta: "Eu era o mais relaxado e o mais mal humorado. Eu ficava muito preocupado com o texto, aí eu não queria brincar muito. Com o Didi eu tinha que falar de um jeito. Com o Mussum era de outro jeito, mais agressivo. E com o Zacharias era com um jeito mais carinhoso".

Crédito: Reprodução/Canal Brasil Dedé Santana no "Espelho" do Canal Brasil
Dedé Santana no "Espelho" do Canal Brasil

"O Mussum era um improvisador. Ele era meu compadre, fui eu que levei ele pro grupo. Eu era amigo dele desde que ele pertencia aos "Originais do Samba". Eu sempre o assistia e achava ele muito engraçado", confessa Dedé."Quando eu convidei ele, ele me respondeu: compadre, eu não sou comediante, eu sou tocador de reco-reco!".

"Mas eu insisti com ele [Mussum] e falei que ele era um grande comediante, ele é que não sabia", relembra Dedé. Quando Mussum quis saber o que fazer para ficar mais à vontade, Dedé Santana recomendou o trabalho no circo: "Eu falei: vamos fazer show em circo, porque lá o público ou gosta ou não gosta —ali a parada é violenta. Então botei ele no circo e quando terminou eu disse pra ele: rapaz, tu é bom demais!", relembra Dedé.

"O Zacarias foi o Renato que descobriu. Ele parecia um bancário quando apareceu por lá, todo de gravata. Ele tinha uma voz bonita, ele foi radio-ator em Minas. Rapaz, quando esse cara começou a ensaiar, meu Deus do céu! Ele era uma mistura de cinema mudo com desenho animado!", conta Dedé, que muitas vezes ria em cena aberta.

"Uma vez foram reclamar com o Boni que eu ria —ele só respondeu: deixa ele rir, tá dando 90% de audiência! Eu ria muito com eles. Com sinceridade, eu nunca me considerei um dos trapalhões", confidencia Dedé, "porque eu era fã dos caras!".

"O Didi é muito engraçado. Mesmo pessoalmente no convívio do camarim, depois que você pega mais intimidade, ele é muito engraçado! Tinha gente que falava que eu era o menos engraçado do grupo —mas eu não tava ali pra ser engraçado. Eu nunca fui engraçado! Eu era 'escada' —eu tava ali pra preparar a piada pro palhaço. Eu me considero ajudante de palhaço", conclui.

"A grande coisa que havia nos 'Trapalhões' era o respeito que tinha um pelo outro. Se o Zacharias tivesse agradando mais, a gente segurava pra ele. Se fosse o Renato, todo o mundo trabalhava pra ele. Se fosse o Mussum a mesma coisa. Não tinha competição entre a gente —-um fazia tudo pra ajudar o outro", relembra Dedé que, além de atuar, escreveu e dirigiu o grupo diversas vezes.


"Fui assistente de montagem, cheguei a fazer dublagem —mal pra caramba, mas cheguei a fazer. Fiz um pouco de cada coisa, mas meu sonho era dirigir", confessa Santana. "Um dia o Renato me falou: você vai dirigir o nosso filme. Eu tomei até um susto! Aí ele me deu o roteiro, me deu a liberdade de mexer um pouco no roteiro, e foi o primeiro filme e foi muito elogiado pela crítica e pelo público", relembra Dedé, com orgulho.

Quanto à dimensão do sucesso alcançado pelo grupo, o ator confessa: "A gente não tinha muita noção disso, não. Nenhum dos quatro. O Dedé e o Didi eram bem palhaços de circo. A gente sabia como fazer o púbico rir. Eu tenho orgulho de falar isso: eu levei o humor circense, do picadeiro do circo para a televisão!".

O apresentador observa o fato do comediante, que vem de uma família de artistas, ter feito de tudo para que os seus filhos não seguissem a carreira. "É verdade", concorda Dedé. "Você sabe que a profissão é muito sofrida. É difícil, muito difícil! Eu fiz de tudo para que nenhum dos oito fosse artista. Mas teve dois, os dois últimos, que eu não consegui. A minha filha já faz teatro, é campeã de dança —e meu filho é um grande acrobata".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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