Renato Kramer

'Eu preferia ser um cara vaselina, bom moço', diz Ed Motta após polêmica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O cantor Ed Motta esteve no "Altas Horas" (Globo) deste sábado (18) para esclarecer a polêmica causada por uma recente postagem sua nas redes sociais.

"Você realmente pediu desculpas? Depois a gente leu recentemente que não", questionou Serginho Groisman. "O que aconteceu realmente foi o seguinte: eu fui tentar me expressar sobre uma coisa que acontece nos shows internacionais mas que é em muito pequena escala. É a presença de pessoas que nunca escutaram a minha música no Brasil e que vão a um show de um artista brasileiro assim como poderiam comprar uma banana feita no Brasil, entende? Uma coisa completamente sem fundamento", declarou Motta.

Em turnê na Europa, Ed Motta não quer brasileiros 'simplórios' falando português
De relógio branco, Ed Motta abre show em SP com 'Manuel'

E acrescentou: "Esse tipo de pessoa vai ao show para berrar time, berrar 'Flamengo', berrar 'Corinthians', entendeu? E berrar, claro, o 'Manuel' que foi o meu primeiro sucesso. O que foi um grande erro e que eu me arrependo muito foi a forma que eu me expressei respondendo às pessoas. As pessoas ficaram iradas, revoltadas e agressivas, com razão, por causa de um texto irônico. Quem me conhece sabe que eu sou super irônico. Mas o que eu falhei e me arrependo e peço desculpas eternamente foi pelas respostas que eu fiquei dando particularmente, uma coisa completamente insana, desvairada junto com as pessoas. Sobre o conteúdo do texto inicial, eu não tenho do que me arrepender, nem do que me desculpar", completou o cantor.

A "imprensa maldosa" distorceu alguns aspectos de sua declaração, afirmou Motta. "Eu falei que o brasileiro que tinha mais cultura, mais informação, era uma parcela do meu público internacional e que tinha essa outra parcela. Aí, o que eu via na televisão e na internet era tipo assim: 'Ed Motta não quer falar português, não quer cantar para brasileiro e o público dele é culto que é só o europeu'. Quer dizer, uma coisa extremamente maldosa que ficou incitando um ódio nacional. Virei um Pedro de Lara genérico à toa!", concluiu.

"Não é a primeira vez que você cutuca o público, isso é um pouco incontrolável? Chega um momento que você tem que falar e manda um texto?", perguntou Groisman. "Infelizmente isso é incontrolável. Eu quero sempre aprender com os meus erros, e a gente não acaba com os erros. Vamos aprender até o próximo erro. Ninguém escolhe isso, na verdade. Eu preferia muito mais ser um cara vaselina, bom moço, eu preferia muito mais isso para mim —eu e a minha conta bancária!", respondeu o cantor.

"Eu vi que teve reações desde 'falta de patriotismo', 'vai cantar lá fora', 'vai embora' até 'na verdade ele quer chamar a atenção'", comentou o apresentador. "A música tem uma coisa muito clara: quanto mais você se aproxima da música com profundidade, mais você vai estar afastado do elemento popular", argumentou Motta.

"Você vai estar distante do simplismo que a música popularesca pede. E não digo 'popular', porque Burt Bacharah é popular, Tom Jobim é popular. Eu digo o momento que a gente vive hoje —que não é de hoje, é dos últimos 15 anos, digamos. Eu estou esteticamente em outra coisa, por opção. Não porque eu não tenha conseguido fazer uma música ruim o suficiente pra fazer sucesso (risos)".


"O Brasil passa por um momento político importante, as pessoas precisam linchar alguém —eu virei o 'cristo' da vez, falando apenas de uma coisa de um show, me expressando", queixou-se.

"Quais estão sendo as consequências disso?", quis saber Serginho. "Eu cancelei um show em Porto Alegre porque eu não estava me sentindo bem para fazer. nada de vergonha, nada disso. Eu não tenho vergonha de nada do que eu possa propor. Eu tenho uma música que eu me orgulho dela, eu me dedico a ela, eu faço música super seriamente", ressaltou.

E abriu o jogo de vez: "Acho uma injustiça louca com um cara que faz música como eu faço ser apedrejado dessa forma. Com gente que está fazendo 'a boquinha do sei lá o quê' está tudo bem, porque as pessoas são vaselina e tem todo um editorial de comportamento para essas pessoas, até porque tudo é muito passageiro. Tem que aproveitar aqueles 3, 4 anos para ganhar aquelas fortunas imensas, porque aquilo não vai durar, né? Pode até durar, no mundo de hoje eu não sei de mais nada", desabafou o músico.

"No geral, qual é o suco que você extrai daquilo que você postou?", encerrou Serginho. "O suco exprimido com a mão. Eu diria que me arrependo das minhas respostas e não me arrependo do conteúdo inicial do meu texto. Mas, se for um suco numa centrífuga, que tira todo o sumo, é óbvio que ninguém quer isso pra si. Como falei inicialmente, eu preferia ser um bom mocinho, um vaselina, falso. Era muito mais fácil pra mim. A minha vida seria muito mais fácil do que eu ficar aqui levantando uma bandeira sozinho sendo apedrejado por todo o mundo. Me arrependo amargamente de estar nessa posição". concluiu Ed Motta.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias