Renato Kramer

'Nunca pensei que fosse ficar parecido com o Chacrinha', confessa Stepan Nercessian

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Eu nunca pensei que fosse ficar parecido com o Chacrinha na minha vida", declarou o ator Stepan Nercessian ao iniciar a sua entrevista no "Programa do Jô" (Globo) desta quinta-feira (2).

Stepan está protagonizando "Chacrinha, o Musical", de Rodrigo Nogueira e Pedro Bial, sob a direção de Andrucha Waddington —que chegou a São Paulo depois de uma temporada de sucesso no Rio de Janeiro.

"Gente, mas ator é fogo, porque o que tá parecido, incrível!", comentou o apresentador Jô Soares ao olhar a foto do cartaz. "É uma coisa mediúnica", acrescentou. O ator confessa que nunca havia feito um musical na vida: "Eu não canto nem danço, como é que ia fazer musical?!", declarou Nercessian, bem humorado.

"Mas nesse você canta e dança?", quis saber Jô. "Eu canto duas músicas lá: uma é 'Bacurinha' e 'Eu Não Sou Cachorro Não', do Waldick Soriano. E eu descobri uma coisa: quando eu erro, e eu erro quase sempre, eu boto a culpa na banda. Eu paro e falo: assim não dá!", confidencia o ator. "Isso é bem Chacrinha", comenta Jô.

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress "Chacrinha, o Musical". Renan Mattos (Ney) e Stepan Nercessian (Chacrinha)
"Chacrinha, o Musical". Renan Mattos (Ney) e Stepan Nercessian (Chacrinha)

Sobre voltar ao palco, Nercessian conta que já fazia mais de dez anos que havia feito a comédia "Segundas Intenções" ao lado da atriz Maria Zilda Bethlem. O ator estreou no teatro em 1974, com a peça "A Dama das Camélias", protagonizada por Camilla Amado —com quem o ator foi casado durante 14 anos.

"No dia seguinte à estreia, a crítica do Ian Michalski dizia assim: não é possível que num elenco com tantos profissionais gabaritados ninguém teve a consciência de avisar esse rapaz que definitivamente o lugar dele não é no teatro!", conta Stepan dando risada. Então o ator resolveu ler uma outra crítica para ver se a coisa melhorava de figura.

Mas a outra dizia: "Stepan Nercessian mais parece um cabide carregando os figurinos de Arlindo Rodrigues", relembra o ator se divertindo muito. "Quer dizer, sucesso garantido!", conclui. No dia seguinte, Nercessian lembra que escorregou e caiu no palco de nervoso.

"Depois disso, quando eu ia fazer teatro, ficava uma voz no meu ouvido o tempo todo: você tá uma merda, você tá atrapalhando, ninguém tá gostando de você, o seu braço tá duro! Aí eu falei: eu não vou mais fazer isso. Isso é um sofrimento!", foi quando o ator resolveu deixar o palco por um tempo.

"Teatro é assim, quanto mais você faz, mais você vê que ainda tem que aprender muito", afirma o ator que dá vida ao "Velho Guerreiro" no Teatro Alfa (SP). Além do desestímulo da crítica, o ator passou a ter pesadelos terríveis: que entrava em cena e a roupa tinha pego fogo, ou então entrava na peça errada, ou que esquecia o texto. "O Walmor Chagas dizia uma coisa muito boa ao meu respeito. Ele falava: você não é ator, você é cínico!", relata Stepan sempre rindo muito.

"Eu morava em Goiânia (GO), era totalmente envolvido com o movimento estudantil —eu era muito criança, mas já era do partidão", declara. "A primeira vez que o meu nome saiu no jornal foi na coluna do Stanislaw Ponte Preta [Sérgio Porto]. Eu tinha sido expulso do meu colégio sob uma acusação gravíssima: que eu tinha feito curso de guerrilha na Coréia do Norte! Aí, Stanislaw escreveu: a subversão em Goiás é comandada por um agitador mirim de 14 anos que já fez curso de guerrilha na Coréia do Norte", conta.

Jô chama então cenas do filme de estreia de Stepan Nercessian: "Marcelo Zona Sul" (1970 - Xavier de Oliveira). "Olha que lindo que eu era!", comenta o ator ao se ver na tela. Stepan continua à frente do Retiro dos Artistas (RJ): "Temos lá quase 60 pessoas morando". "Aquilo é um empreendimento sensacional e você faz uma coordenação perfeita", elogia Jô Soares.

"Chacrinha, o Musical" deverá permanecer em cartaz no Teatro Alfa (SP) até o próximo mês de julho, depois viajará pelo país, avisa o protagonista Stepan Nercessian.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias